A misericórdia de Deus e as enfermidades do nosso mundo

Num mundo em caos os salvos são chamados a exercer a misericórdia. Porém, o que vemos muitas vezes são ações extremadas. Reflitamos sobre isso!

Por Luiz Fernando dos Santos

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).

O centro das boas novas anunciadas por Jesus Cristo, que é a suma da esperança e da fé dos crentes do Antigo Testamento, é a apresentação do Deus das misericórdias. Deus se compraz em mostrar misericórdia para com os pecadores arrependidos. Deus revela-se misericordioso sempre que invocado, pela fé, por homens e mulheres ruborizados pelo pecado, impotentes frente ao mal e incapazes de fiados em justiça própria, consertar a própria vida. A misericórdia da parte de Deus é uma ação criadora, que transforma a realidade, que cria nova oportunidade, nova vida, novas energias para continuarmos seguindo em frente.

Os rabinos costumam ensinar que antes da criação do mundo visível, Deus criou o arrependimento e a misericórdia, mecanismos pelos quais Ele mesmo poderia relacionar-se com as suas criaturas limitadas e passíveis de pecar, como foi o caso. Então, a misericórdia antecipou-se à Queda, de modo que o perdão já estava à disposição antes mesmo do pecado entrar no mundo. Ainda hoje, as misericórdias do Senhor continuam se antecipando a nós, elas se renovam a cada manhã, causa de não sermos consumidos e aqui está a nossa esperança e a nossa segurança (Lm 3. 21ss).

A misericórdia é um santo antídoto contra as mais variadas enfermidades que grassam em nosso mundo. Nosso tempo reclama o exercício da misericórdia em muitíssimas frentes. Precisamos começar a viver a cultura da misericórdia em casa, de maneira especial, no casamento. Sem misericórdia, o ato gracioso e bondoso do coração de levar em consideração a fragilidade do outro, o gesto generoso de acolher e carregar o fardo da limitação do outro, nenhuma relação pode ser saudável e duradoura. As cobranças insistentes por perfeição, as falsas e ilusórias expectativas que criamos em relação ao cônjuge, às vezes exigindo mais do que ele um dia prometeu dar ou pode oferecer, gera atritos e ressentimentos amargurados. A misericórdia no casamento acolhe e ama o outro não apesar de suas fraquezas, mas, justamente por causa delas. Não que a misericórdia deva nos fazer cúmplices dos pecados, nada disso, mas a misericórdia nos ajuda a oferecer toda sorte de auxílio, afeto e segurança psicológica e espiritual para que o outro possa se levantar e deixar para trás o erro. Onde não há misericórdia tudo o que fazemos é anotar as faltas mútuas para recíprocas acusações em tempos de dificuldades. A misericórdia torna a vida a dois, mais adequada, pacífica e gozosa.

Nossos filhos precisam crescer na escola da misericórdia. Mormente, nossas crianças crescem em um ambiente competitivo como a escola, os clubes e as rodas de amigos. Nossa cultura propõe uma espécie de darwinismo social onde só os mais fortes sobrevivem. Assim, a porta para a desumanização, a banalização da violência e a marginalização do fraco, permanece o tempo todo aberta. Sendo educados em um ambiente misericordioso, nossos filhos desenvolverão um espírito solidário, respeitoso, altruísta e compassivo. A misericórdia não permite a exacerbação da meritocracia e cria espaço para a partilha e a inclusão dos mais fracos ou incapacitados por quaisquer eventualidades. Essa misericórdia vivida no coração da família deve transbordar e “respingar” nas engrenagens da sociedade e na dinâmica da vida.

A misericórdia deve assentar-se no banco do carona e ser uma boa conselheira para a mediação e mesmo o fim da violência no trânsito. Essa misericórdia deve estar na pauta de nossas reuniões de negócio, em nossas relações no trabalho, na condução da política e no coração da igreja. A misericórdia nos livra da obsessão por resultados, nos cura do perfeccionismo, nos exorciza do amor desmedido pelo poder e nos ensina a perder com honra e gratidão e a ganhar com humildade e ação de graças. Um coração cheio de misericórdia nos faz ter uma imagem mais adequada de nós mesmos. Porque só é misericordioso quem experimentou a misericórdia, logo, esse tem a dimensão exata de sua miséria, de sua fragilidade e está consciente de que seus pés também são de barro. Então, quem se sabe agasalhado pela misericórdia de Deus em Cristo e cresceu na vivência dessa misericórdia em suas relações desde sua família e igreja, não tem outra opção que não ser agente desse amor curador e restaurador do Pai que pela misericórdia sempre faz novas todas as coisas.

Pescado em Ultimato

Sobre o autor | Website

Meu nome é Daladier Lima dos Santos, nasci em 27/04/1970. Sou pastor assembleiano da AD Seara/PE. Profissionalmente, trabalho com Tecnologia da Informação, desde 1991. Sou casado com Eúde e tenho duas filhas, Ellen e Nicolly.

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2 Comentários

  1. Williane Costa disse:

    Uma de inúmeras misericórdias de Deus vemos simplesmente ao amanhecer.
    Quando ele nos dá mais um dia do fôlego de vida, para que podemos fazer melhor do que no dia anterior.

  2. A melhor “pista de testes” para avaliarmos e aperfeiçoarmos nossa misericórdia é no autódromo do casamento. Onde, em determinados trechos, podemos acelerar nas retas, reduzir nas curvas, até emparelhar… mas sempre com o cuidado para não causar uma colisão, um acidente que tire o outro da corrida, do pódio destinado a dois vencedores.