Cinco coisas que a Igreja evangélica precisa aprender com Ananias?

Será que um personagem, cuja ação é citada somente duas vezes no Novo Testamento pode ensinar alguma coisa à Igreja? Quais seriam estas coisas que são tão importantes e caras para nós hoje em dia? Num tempo em que certos parâmetros estão sendo esquecidos, podemos retornar ao capítulo 9 de Atos e aprender algo com Ananias? Vamos juntos analisar estes cinco pontos!

Há três pessoas como o nome Ananias no Novo Testamento. O primeiro deles é o marido de Safira (Atos 5:1), que mentiu sobre o valor de venda de uma propriedade e acabou morrendo castigado. Há o segundo Ananias, objeto de nosso post, apenas mencionado em Atos 9:10 e 22:12, onde Paulo relembra o que aconteceu no texto em epígrafe. O terceiro Ananias é o sumo sacerdote que acusou Paulo (Atos 23:2, 24:1). O nome Ananias significa O Senhor tem segredos, no Velho Testamento o vocábulo é grafado Hananias, lembrando que o H em hebraico é pronunciado como R de rato!

Há algumas coisas que precisamos aprender (ou seria reaprender?) com o Ananias de Atos 9!

Em primeiro lugar, as manifestações espirituais são uma realidade em sua vida. Note a diferença, ele percebe os contornos espirituais da realidade que o cerca, contudo não espiritualiza tudo. O verdadeiro discípulo é aquele que enxerga a realidade material e espiritual do mundo em que vivemos (Efésios 2:2), sem exagerar nas cores . É, portanto, além de tudo alguém sintonizado espiritualmente. Ananias era um crente de visão, de olhos espirituais abertos, guiado pelo Espírito Santo (Romanos 8:14). Essa condição é obtida quando o discípulo se deixa ser guiado por Jesus, quando Ele está entronizado em seu coração. Quando vivíamos no mundo nossa carne tendia a interpretar os fatos de maneira materialista e empírica, mas uma vez nascidos de novo devemos aprender a discerni-los espiritualmente (I Coríntios 2:15).

O texto do v. 10 diz: disse-lhe o Senhor em visão. Onde visão é a tradução da palavra grega horama, que ocorre doze vezes no Novo Testamento, uma em Mateus 17:9 e onze em Atos. O termo descreve não uma visão do ponto de vista estético, mas algo que atinge a mente humana, tornando possível ao cérebro receber e compreender uma mensagem divina de forma sobrenatural.

Observe, porém, que ele não abre mão de sua razão, seu raciocínio. Não sai correndo adoidado atrás de visões e profecias, atendendo a supostas ordens divinas. Ele processa a visão e até dialoga com Deus, dizendo que aquele homem, objeto da ordem divina, é um conhecido perseguidor da Igreja. Deus não fica zangado com ele, mas o aconselha a ir adiante pois tem uma missão especial para Paulo: “Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel.” Atos (9: 15).

Pela Bíblia entendemos que as visões de Deus ocorrem a quem o busca. Ousaríamos dizer que tal possibilidade está disponível a todos quantos a queiram (Jr 29:13). As visões espirituais são uma promessa de Deus para sua igreja (At 2:17). Outrora as tínhamos em maior quantidade pela maneira abundante que eram buscadas. Jesus ainda é o mesmo (Hb 13:8), entretanto, falta desprendimento aos discípulos modernos para orar.

Em segundo lugar, Ananias se dispôs a atender o chamado do Mestre. O mesmo versículo que afirma que Deus disse: “Ananias!”, registra que ele respondeu: “Eis-me aqui!” O quadro no qual se desenrola esta atitude do discípulo Ananias está emoldurado por uma palavra desgastada em nossos dias: prontidão. Prontidão para servir, para fazer a vontade de Deus, para ouvir a voz do Senhor. É necessário notar que Ananias havia respondido eis-me aqui, antes de saber a que propósito a visão se referia! O que transparece a nós que devemos estar prontos não apenas para ouvir o que é bom ou que trará algum resultado material, mas algo supostamente negativo, como uma repreensão.

O homem moderno ouve pouco e fala muito, consequentemente erra demais. Há um provérbio árabe que diz: Falar é prata, calar é ouro. Diz-se que certo missionário seguia firme na sua intenção de pregar a Palavra de Deus, quando no meio do nada seu trem quebrou. Ele começou resmungar, tentando entender como algo tão ruim aconteceu. Ele não poderia cumprir seus compromissos. Após muitas reclamações, ele começa a orar, quando Deus lhe segreda: Fui eu quem quebrou o trem! O quê? Mas… como podes fazer isto comigo? Deus completa: Tu estás preocupado em falar a meu povo, e eu estou preocupado em falar contigo!

Muitas de nossas orações são monólogos, nos quais apenas falamos e Deus ouve. São apenas listas sofisticadas de desejos pessoais. Isso acontece porque nossa mente está recheada de prioridades carnais, que dizem respeito aos nossos interesses pessoais. Deus está querendo falar com você, mas só fará isso se sua disponibilidade for completa. Ouça a sua voz em oração, e responda como Samuel: “Fala, porque o teu servo ouve” (I Samuel 3:10)!

Em terceiro lugar, Ananias nos surpreende novamente. Não entendia perfeitamente o que estava acontecendo. Até questionou de forma objetiva, sem desculpas. Não era se ele ia ou não, isto estava fora de questão, pois ele era um discípulo disposto, o problema era ajudar a um homem que poderia matá-lo e amaria fazer isto. Depois de assegurar-se que Deus estava no controle de toda situação, confiou inteiramente e partiu para cumprir o que lhe havia sido ordenado. Esta mesma dependência está presente na vida de Abraão, que saiu de sua terra sem saber para onde ia, em obediência ao chamado de Deus (Hebreus 11:8).

Depender de Deus não significa ser um robô em suas mãos, mas confiar de forma plena sem duvidar (Tiago 1:6), mesmo a ponto de parecer uma loucura (I Coríntios 1:25). Por outro lado, tal dependência evidencia a necessidade de que façamos algo: a nossa parte. Deus não chama alguém para ficar inerte aguardando sua intervenção, ao invés disso Ele nos dá uma ordem e devemos seguir adiante sem nada temer. Em Êxodo 14:15, Deus disse ao povo de Israel para marchar, mas não colocou ninguém no colo! Somos instrumentos das ações de Deus, dos quais Ele não abre mão, mas devemos cumprir nossa parte.

Muitas vezes cumprir a vontade de Deus trará amargura e dissabor. Noutras, cumprir a ordem divina significa ir contra a maioria, ser incompreendido e rejeitado. Por essa razão as pessoas leem a Palavra de Deus, acham-na bela e proveitosa, mas não a cumprem. São pessoas que querem ser amadas por Deus, mas não querem cumprir suas determinações, contrariando o que diz João 14:23: …Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará… Cumprir a ordem de Deus significa ser obediente. Na Bíblia obediência não é uma palavra condicional como aprendemos em nossos dias. O próprio Jesus foi obediente até a morte (Filipenses 2:8), a última fronteira!

Em quarto lugar, Ananias não estabeleceu condições para fazer o que Deus mandava. Ananias não pediu para ser livrado da morte. Temeu como qualquer um de nós o faria. Saulo não estava só naquela empreitada (Atos 9:7), podia ser que algum (ou alguns?) rancoroso dissidente, ciente de que ele agora estava convertido, quisesse revidar. Mas Ananias não temeu. Na vida de inúmeros homens e mulheres de Deus, cujas histórias estão relatadas seja na Bíblia ou hoje, não há pré-condições para fazer algo para ele. Curiosamente, os que mais reivindicam tais condições, são os que menos trabalham e os que mais reclamam. Mais tarde o próprio Paulo, sabendo o que lhe aconteceria pela revelação do Espírito Santo, não temeu (Atos 20:22-24).

Quando estabelecemos condições, na verdade não queremos fazer. E aquele que faz sem querer, sem prazer, sem dedicação, faz relaxadamente. Deus não se agrada de um trabalho relaxado, pois é sacrifício de tolos (Tiago 1:14; I Pedro 1:17; Hebreus 6:10; Apocalipse 22:12).

Muitos dizem que estão prontos para fazer este ou aquele trabalho, mas à primeira dificuldade desistem, não poucos culpam Deus. Jesus repreendeu duramente os que lançam mão do arado e depois olham para trás (Lucas 9:62). Quando lemos os versículos acima, imaginamos Ananias sentado num lugar, somente esperando, como um bombeiro, a ordem para fazer algo para Deus. Mero engano, Ananias era um homem ocupado como qualquer um de nós. Mas ao ser chamado, largou seus afazeres e foi. Assim como Pedro largou tudo em Lucas 5 para ser pescador de homens!

Muitas vezes não nos falta tempo, nem se trata de ser irresponsável com as tarefas do dia-a-dia, com trabalho e família, mas de estabelecer prioridades com a finalidade de que ele nos sobre, falta-nos remi-lo como diz Paulo aos Efésios 5:16. Aliás, o verbo remir no original grego é eksagorazô, e significa utilizar de maneira proveitosa. Por outro lado, existe a necessidade de nos negarmos a nós mesmos, para fazer a obra de Deus (Lucas 9:23). Poucos compreendem como seguir Jesus, pode resultar em sacrifício, dor e até mesmo morte como dissemos mais acima. Precisamos nos desdobrar para agradar o Mestre. Nas Escrituras Sagradas resta muito claro o seguinte: Deus não pede nada a alguém que este não possa fazer!

Nenhum dos discípulos pediu um bom salário, uma morte na cama, sem ameaças e em boa velhice. Seria plausível a nós, dado que eles tinham um desafio enorme à frente e, em suma, realizaram um excelente trabalho. Porém, a condição do discípulo é a vontade do Senhor. Se for da vontade dEle, então não importa estabelecer condições. Mesmo quando do ponto de vista humano nós perdemos (II Coríntios 6:8-10), faça como Jesus no Getsêmane: Seja feita a tua vontade (Mateus 26:42). Sem exigências!

Em último lugar, não busca glória para Si. Uma triste característica dos nossos dias é o trabalho eclesiástico feito por homens amantes de si mesmos (II Timóteo 3:2). O resultado deste trabalho são igrejas inteiras glorificando um ser humano. Na Bíblia isso é idolatria. Paulo condenou tal comportamento na igreja coríntia (I Coríntios 3:4-6). Tal postura se irradiou na música, onde determinados cantores evangélicos são verdadeiros pop stars, desvirtuando totalmente o sentido do ministério no qual estão envolvidos. Todo objetivo de tais pessoas é amealhar dinheiro e fama.

Ananias não se apresentou como um homem de oração ou espiritual, não apresentou credenciais, não se pavoneou diante da pequena platéia reunida na casa de Judas (Atos 9:11). Imediatamente pôs-se a cumprir a missão para a qual foi enviado e desapareceu de cena. Jesus disse, certa vez: Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor (Mateus 10:25). Portanto, toda honra e glória sejam dadas ao Senhor Jesus!

Que sejamos um discípulo aprovado.

Sobre o autor | Website

Meu nome é Daladier Lima dos Santos, nasci em 27/04/1970. Sou pastor assembleiano da AD Seara/PE. Profissionalmente, trabalho com Tecnologia da Informação, desde 1991. Sou casado com Eúde e tenho duas filhas, Ellen e Nicolly.

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2 Comentários

  1. Jefferson Lemos disse:

    gostaria de propor uma verdade que as igrejas não contam e esta na biblia:

    1° a timoteo 3:8 Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância;

    Percebe-se facilmente que os primeiros cristãos bebiam pequenas doses de bebidas alcoolicas, ja que conforme o texto da biblia fala: “não podia beber muito para ser diacono”
    Gostaria de saber qual pastor tem maior autoridade do que Paulo para contraria-lo em seu ensinamento aos lideres da igreja e dizer que até um gole de bebida alcoolica é proibido?

    A propria biblia não é a fAVOR dessas doutrinas dos homens que se preocupam em apenas mostrar na biblia o que lhe convem, ex: Dizimos.

  2. Ótimo texto (como sempre)! Glória a Deus!