Jesus e o dinheiro – Subsídio para a 10ª Lição – 07/06/2015

Tópicos: Breve história do dinheiro, o dinheiro no mundo secular, o dinheiro na igreja, transparência eclesiástica financeira, Teologia da Prosperidade, como Pr Silas Malafaia foi de crítico a adepto, mordomia do dinheiro, orçamento e planejamento financeiro, o crente deve jogar na Loteria?

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Prezados vinte leitores, vamos a mais um subsídio das lições do segundo trimestre. Apenas quatro lições nos separam do seu fim. Cremos que o aprendizado foi abundante e só temos a agradecer a Deus, ao palestrante e à editora CPAD. Claro que aspectos os mais diversos foram ignorados. É impossível abarcar em três meses tudo que deveria ser falado sobre Lucas ou qualquer outro livro. É por isso que nos dispomos a divulgar este subsídio.

O assunto é dinheiro!

O dinheiro não é exatamente um problema. Até precisamos dele e, praticamente, nada podemos comprar sem ele no mundo moderno. O apóstolo Paulo disse que o amor ao dinheiro é que é a raiz de toda sorte de males (I Timóteo 6:10). Importante ressaltar o contexto desta declaração. Paulo estava advertindo Timóteo sobre o uso e abuso do dinheiro no contexto da administração eclesiástica. Grande parte dos problemas que a igreja enfrenta hoje tem sua origem aí. Mas vamos a algumas digressões outras.

No Mundo Antigo não havia dinheiro! Praticamente toda negociação era realizada na base da troca. Funcionava o chamado escambo, que era a troca de excedentes. Alguém plantava inhame, sobrou. O outro criava vacas, sobrou também. Trocavam entre si! Como nos informa Bárbara Soalheiro[1] em seu excelente livro Como fazíamos sem… eram difíceis as transações. Em primeiro lugar, deveríamos procurar alguém que quisesse trocar exatamente aquilo que desejássemos. Depois era preciso fazer um acordo em torno dos valores. Uma vaca não valia um quilo de inhame. A menos que o agricultor tivesse o único inhame da região! Trocava-se conchas, sementes, sal (olha aí a origem de salário!), bacalhau seco, animais. Os mercados de produtos e objetos reuniam os interessados e as transações ocorriam sem controle do Estado.

Com o tempo e a necessidade de portar valores vieram as moedas. Tornou tudo mais fácil, bastava converter o valor de determinado bem e ficava fácil procurar algo equivalente às moedas que alguém tinha. As primeiras moedas eram de ouro e/ou prata e valiam pelo seu peso, sendo pesadas a cada transação. Somente mais tarde as moedas passaram a estampar o valor de face, como fazem até hoje. Qualquer um podia emitir moedas, mas com os problemas que começaram a ocorrer como fraude nos pesos ou sumiço de lastros, os governos padronizaram o processo. Eles se obrigavam a guardar em lastro tanto metal precioso quanto fossem as moedas emitidas. Em 1661 apareceu o primeiro papel moeda, na Suécia.

Hoje em dia boa parte da movimentação financeira é on-line. Transferências, pagamentos, recebimentos são feitos eletronicamente, sem envolver dinheiro em papel ou metal. E já há uma moeda virtual, chama-se bitcoin, que só é utilizada em transações bem específicas como jogos on-line. Os governos estão se esforçando para padronizá-la, para evitar fraudes e evasão de divisas.

O dinheiro no mundo secular

Um dos problemas com o dinheiro é a tentação para valorizá-lo acima das pessoas. Vivemos numa sociedade monetizada, que vive para ganhar dinheiro e para gastar ostentando sua riqueza. Países capitalistas possuem seus templos de consumo onde o dinheiro é a mola mestra. Os relacionamentos funcionam ao redor das posses e se perde e ganha muito dinheiro em pouco tempo. O showbusiness (mídia de massa, cinema, Hollywood, TV, propaganda, música, esportes, etc) é a personificação perfeita disto. Veja este carro de Dubai, banhado a ouro:

Masserati banhado a ouro de Dubai

Masserati banhado a ouro de Dubai

O dinheiro dita o rumo nas empresas, no comércio, na indústria, na agricultura. Manda no relacionamento entre os países. Os mais ricos dominam e oprimem os mais pobres. Os mais desenvolvidos acumulam mais riqueza a cada dia. Em outras palavras, o dinheiro é utilizado como arma de manipulação em todas as culturas.

Muitas pessoas contraem núpcias pensando no patrimônio do pretendido. Outros fazem o maior número possível de amigos que tenham a mesma condição financeira. Outros, por seu poder aquisitivo, se isolam em condomínios fechados e discriminam os mais pobres. O dinheiro compra pessoas, prostitutas, garotas de programa, escravos sexuais. As pessoas mercadejam drogas, outras pessoas no tráfico internacional. Enfim, dinheiro é a mola propulsora do mundo.

O dinheiro na Igreja

Enquanto no mundo secular uma pessoa é medida pelo dinheiro que possui (ou por vezes pelo que aparenta ter), na igreja não deveria ser assim, mas a tentação chega com toda força aos nossos templos. Tiago preveniu esta questão, mas quantos não caem na armadilha? Leiamos o que disse o nobre apóstolo:

Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje, E atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado, Porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos? (Tiago 2:1-4)

Hoje temos a nefasta Teologia da Prosperidade, que prega a impossibilidade de um crente ser pobre. Seus expositores precisam de carros novos e reluzentes para traduzir um estilo de vida abençoado, alguns não hesitam em entrar na própria igreja com seu carrão para que os fiéis possam “ver” o que Deus pode fazer. A prioridade é a doação de ofertas e dízimos!

Pastor entra com sua BMW na igreja

Pastor entra com sua BMW na igreja

Mas o pior é a barganha. “Dê para Deus, que Ele lhe dará em troca”. Os testemunhos dão a tônica. São orquestrados, estéticos, midiáticos e espalhafatosos. Um não tinha nem emprego, hoje tem casa com piscina. Outro de pedinte tornou-se empresário de sucesso. É preciso induzir os ouvintes a doar seu dinheiro para a Igreja abençoadora. Até igrejas sérias tem se rendido a este deus e ele é a razão de inúmeras desavenças dentro dos ministérios eclesiásticos tradicionais.

Os templos espelham esta tendência. Ministério abençoado tem templos grandes e impactantes. Assim pensam alguns pastores enquanto constroem suas catedrais. O Bispo Macedo construiu seu Templo de Salomão, uma réplica magnífica para a adoração a Deus. Na prática, é para ostentação. Os demais pastores que não podem construir algo tão grande se põem a imitar a obra de arte.

Templo de Salomão da IURD

Templo de Salomão da IURD

Diversos pregadores assembleianos ostentam ternos e outros bens caros. Há o mercado da itinerância no qual pregadores e cantores saem pelas igrejas Brasil afora, cobrando altos cachês e bradando seus mantras. Os programas televisivos das igrejas pentecostais e neopentecostais enfatizam o ter como sinal da benção de Deus. Um dos nomes que sucumbiu a esta tentação é o do Pr. Silas Malafaia, que costuma trazer profetas americanos da prosperidade para angariar recursos com suas unções abençoadas de módicos R$ 10.000,00!

Morris Cerullo e Silas Malafaia

Morris Cerullo e Silas Malafaia

No vídeo abaixo você pode conferir como o referido pastor mudou sua visão a respeito da Teologia da Prosperidade.

É um evangelho, por óbvio, distante do que diz a Palavra de Deus. Jesus era pobre, pregou aos pobres e conviveu com pobres. Não há um milagre de riqueza no ministério de Jesus! Deus determinou a Adão que do fruto de suas mãos viria seu sustento (Gênesis 3:19). Trabalho na Bíblia é uma benção e é o que enriquece. Temos, porém, que a um Deus dá em abundância e a outro não, conforme sua soberania. O que disso passar é maligno. Não podemos nos tornar servos do dinheiro, mas temos que colocá-lo a nosso serviço, para o engradecimento do reino de Deus.

O mesmo princípio ocorre às igrejas em sua gestão financeira. As sérias serão recompensadas por membros cientes de sua responsabilidade perante as verdadeiras necessidades. Transparência financeira e a correta aplicação dos recursos, por outro lado, é imperativo para o bom relacionamento entre a membresia e a gestão. Crentes há que não dizimam em sua igrejas porque a administração financeira é uma caixa preta à qual ninguém tem acesso. A própria legislação brasileira obriga os administradores a abrir a movimentação financeira aos membros. Igrejas fechadas, via de regra, possuem gastos inexplicáveis, na tentativa de ocultá-los se omite a prestação. Alguns poderiam alegar falta de confiança, mas é imperioso, para o próprio bem do administrador, recordar inúmeros casos de escândalos financeiros que já ocorreram no Brasil e no mundo[2].

Assim como a Igreja exige que seus membros tenham boa reputação, não emitindo cheques sem fundo, não deixando o nome do SPC/Serasa, senão por absoluta necessidade, a própria organização deve estar atenta e evitar tais situações. Não podemos exigir de outrem o que não queremos ou podemos fazer.

A mordomia do dinheiro

Tudo que temos foi dado por Deus. Este é o princípio do manuseio do dinheiro. O dízimo é uma retribuição pelas bençãos que Deus nos dá. Ele nos dá 100%, retribuímos por gratidão com 10%. É desprendimento e sinal de fé. Deve ser dado com alegria (II Coríntios 9:7). Porém, os outros 90% devem ser bem administrados. É bíblico. A Bíblia possui cerca de quatro mil versículos sobre dinheiro, mostrando sua influência na vida das pessoas. Mas esta influência não pode tender ao mal.

Em primeiro lugar, tudo que fizermos deve ser feito para honra e glória de Deus (I Pedro 2:9). Em segundo lugar, não devemos desperdiçar a benção de Deus, gastando de forma exagerada e ostentatória. Em terceiro lugar, devemos ser generosos, especialmente se temos boa condição financeira. Se formos visitar um irmão necessitado, deixemos nossa ajuda, como aconselha Tiago (Tiago 1:27; 2:14-18).

Que fique bem gravado em nossa mente, por outro lado, que ter dinheiro não é pecado. Se a origem desse dinheiro foi o trabalho árduo sob a benção de Deus a Bíblia não condena. O condenável é a obtenção de dinheiro fácil por meios ilícitos como venda de drogas, roubo, estelionato e outros crimes. Atribui-se a Albert Einstein o seguinte ditado: Sucesso só vem antes de trabalho no dicionário!

Infelizmente, não poucos irmãos recorrem a expedientes pouco ortodoxos no intuito de ter muito dinheiro e enriquecer. É o caso dos que jogam na Loteria e no jogo do bicho. Alguns o fazem às escondidas, outro às claras. Ambos estão errados. Jogos de apostas são tramas para adiantar a benção de Deus sobre nossas vidas. Se confiamos em Deus devemos trabalhar e aguardar o que Deus fará em nós e por nós. Não raro os ganhadores se ufanam de uma suposta vontade de Deus, de que eles ganhassem, quando tudo não passa de permissão divina. Afinal, ganham jogadores crentes ou não. E quando ganham vem as dores de cabeça com medo de sequestros e como conviverão com o dinheiro. A Bíblia diz que a benção de Deus não traz dores (Provérbios 10:22).

Outro aspecto importante é a humildade no trato do dinheiro. Alguns ao enriquecerem esquecem os amigos e irmãos e até seus familiares. Isto não é bíblico. A Bíblia afirma que a humildade precede a honra (Provérbios 16:18). Tenhamos cuidado, pode ser que num dos caprichos da vida, voltemos à antiga condição financeira e já não seremos aceitos por nossa arrogância.

Eu já vi esse filme muitas vezes… Devemos ter em mente que nada levamos deste mundo, por mais dinheiro que tenhamos. Meu bisavô dizia que a vida é uma roda, um dia estamos em cima, outro dia em baixo. Há um ditado popular que diz o seguinte: Não jogue espinhos na estrada, na volta você pode estar descalço.

Orçamento e planejamento financeiro

O bom uso do dinheiro inclui o planejamento financeiro. É necessário administrar receitas, despesas e investimento, seja em poupança ou imóveis, por exemplo. Não se enganem pensando que só deve fazer assim quem ganha muito dinheiro. Eu trabalhava numa agência bancária em que uma pessoa que tinha um dos menores salários emprestava a gerentes! Motivo: era o cara mais organizado, financeiramente!

Fazer dívidas de longo prazo, por exemplo, requer uma análise minuciosa. Pesquisar os menores preços e menores juros são práticas simples que devem ser incutidas em nossa mente. Quando você começa a dividir a feira mensal no cartão ou pagar o mínimo da fatura é hora de colocar o pé no freio. Aliás, o cartão tem sido um vilão nas contas da maioria dos brasileiros. É que se “pensa” que comprando a prazo, em 24 meses, não teremos de pagar ou que as coisas ficam mais baratas quando compramos no cartão. E aí começamos comprando, comprando e comprando e depois se torna uma bola de neve.

O ideal é fazer um planejamento financeiro de longo prazo. Se tem computador coloque receitas e despesas (o mais minuciosamente possível) e faça algo semelhante a esta planilha abaixo, acompanhando mês a mês como está o planejado e o executado. Não existe milagre, somente um acompanhamento responsável trará economia para seu bolso:

Exemplo de planilha financeira

Exemplo de planilha financeira

Evite, por exemplo, comprar produtos que se deterioram muito fácil, em muitas parcelas. Quando você estiver pagando as últimas parcelas já terá que comprar outro. Infelizmente, nossa cultura social brasileira prioriza o belo, antes do duradouro… Ao comprar eletrônicos, pechinche, porque são objetos que desvalorizam muito rápido com os novos lançamentos. Além da facilidade de serem roubados. O que dizer do nobre amigo/a que comprou um celular por R$ 3.000,00 em 10x no cartão, ainda está na 4ª parcela quando ele é levado por um malandro? Sem contar que um celular de R$ 600,00, R$ 700,00, faz praticamente tudo que um mais caro faz. Deixemos de lado esta questão de status, é pra quem pode!

Leia este outro texto nosso: Ter dinheiro resolve todos os problemas. E, ainda, este outro sobre gestão de finanças na Igreja.

[1] Soalheiro, Bárbara, Como fazíamos sem…, 1a edição, Panda Books, 2006

[2] Leia o incrível caso de escândalo financeiro na igreja de Paul Young Cho

Sobre o autor | Website

Meu nome é Daladier Lima dos Santos, nasci em 27/04/1970. Sou pastor assembleiano da AD Seara/PE. Profissionalmente, trabalho com Tecnologia da Informação, desde 1991. Sou casado com Eúde e tenho duas filhas, Ellen e Nicolly.

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4 Comentários

  1. Shirlene Viviane disse:

    Excelente estudo Pastor Daladier, muito abrangente e imparcial. Fica claro seu objetivo em pregar aquilo que DEUS manda e não o que as pessoas querem ouvir. Obrigada pela mensagem, parabéns e que DEUS continue abençoando a sua vida e de vossa família.

  2. Josué Rodrigues disse:

    Parabéns! excelente postagem. Uma linguagem clara e objetiva.

  3. Claudio disse:

    Paz pastor daladier ❗ se puder enviei todos os subsídios da lição desse trimestre para o meu e-mail eu muito agradeço ❗

  4. Daladier Lima disse:

    Para acessá-los é fácil, vai no menu superior do blog: SUBSÍDIOS PARA EBD. Lá estão todos organizados por dia.

    Abração!