Pastores e diáconos – Subsídio para a 4ª Lição da EBD – 26/07/2015

Prezados leitores, chegamos à quarta lição de um trimestre abençoado. Gostaria de convidá-los, ao menos neste comentário, a um formato diferente: perguntas e respostas sobre a lição, seguindo mais ou menos os pontos e subpontos da lição. Vamos tentar?

1) Quais as acepções do termo pastor no Novo Testamento? 

Bem, como já dissemos em post anterior o título é tardio na Igreja para se referir à liderança. A palavra pastor ocorre 20 vezes no Novo Testamento: Mateus 9:26, 25:32, 26:31; Marcos 6:34, 14:27; Lucas 2:8, 15, 18, 20; João 10:2, 11, 12, 14, 16; Efésios 4:11; Hebreus 13:7, 17, 20; I Pedro 2:25, 5:4. Em Mateus e Marcos as referências estão ligadas ao trabalho do pastor. Nenhuma se refere a Cristo. Em Lucas, estão ligadas aos pastores que adoraram Jesus em seu nascimento. Em João as referências diretas e indiretas são a Jesus. É o único evangelho no qual Jesus se apresenta como Bom Pastor.

Das demais ocorrências Hebreus 13:20, I Pedro 2:15, 5:4 se referem a Jesus. Hebreus 13:7, 17 tem sido traduzido para pastor, mas o original é outra palavra: líder. Explico. Nestes versículos ocorre a palavra êguménôn:

êguménôn

Lê-se: êguménôn

êgumenois

Lê-se: êguménois. Plural de êgumenôn

A palavra pastor em grego é poimên:

Lê-se: poimên

Lê-se: poimên

Somente com o passar dos anos é que o termo se firmou. Era mais comum presbítero ou bispo. Sendo termos intercambiáveis para o trabalho pastoral.

2) Havia distinção entre as funções do pastor, bispo ou presbítero?

Não há uma distinção muito clara, exceto, por presbítero, palavra que ocorre 66 vezes no NT, se referir à liderança mais idosa.

presbyteros

Lê-se: presbyteros

É o termo utilizado, por exemplo, em João 8:9: …a começar pelos mais velhos…, Apocalipse 4:10, 19:4: …vinte e quatro anciãos e em diversas outras ocorrências da palavra velho ou idoso.

A distinção que há é que várias vezes o texto se refere aos apóstolos e aos anciãos, é o caso de Atos 15:4,6, 22, 23, 16:4, assim como se fossem dois grupos distintos. Ao que indica alguns textos, os presbíteros eram eleitos (escolhidos) no meio na Igreja (Atos 14:23, Tito 1:5).

3) E quando aparecem os diáconos na história da Igreja?

Igualmente, um título tardio. Só surgido na Igreja a partir do capítulo 6 do livro de Atos. O diácono é um servidor, exceto pelo louvor, nos tempos do Antigo Testamento era um levita. O diácono é um servo de retaguarda na congregação.

É necessário compreender que tais funções não foram instituídas diretamente pelo Senhor Jesus. Elas surgiram em razão da necessidade da Igreja, com a plena anuência e direção do Espírito Santo. Necessitamos, portanto, de um olhar mais funcional do que posicional. Aliás, ministru, no latim, significa mordomo, servo. Donde entendemos que são funções para servir à Igreja, seja liderando ou viabilizando o andamento dos cultos.

Só para informação do nobre leitor, diversas vezes o termo diakonia, que significa o serviço do diákono, é traduzido como ministério: Atos 1:25, 6:4, Colossenses 4:17, I Timóteo 1:12, II Timóteo 4:5, 11. O encastelamento e busca de tronos e poderes longe está da Bíblia!

4) Quais os requisitos para o pastorado e o diaconato?

Para o pastor recomenda-se:

  1. Irrepreensível
  2. Marido de uma mulher
  3. Vigilante
  4. Sóbrio
  5. Honesto
  6. Hospitaleiro
  7. Apto para ensinar
  8. Não dado ao vinho
  9. Não espancador
  10. Não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado
  11. Não contencioso
  12. Não avarento
  13. Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia
  14. Não neófito

Para os diáconos:

  1. Honestos
  2. Não de língua dobre
  3. Não dados a muito vinho
  4. Não cobiçosos de torpe ganância
  5. Guardando o mistério da fé em uma pura consciência.
  6. Maridos de uma mulher
  7. Governem bem seus filhos e suas próprias casas

Observamos que para o pastorado se exige o dobro de requisitos. Tais restrições visavam e visam que somente os verdadeiramente vocacionados possam exercer tão distinta função. Infelizmente, hoje conveniências e outras coisas tem interferido nas consagrações de obreiros.

Vemos ainda como os requisitos são tão elevados, especialmente, se comparados com os de hoje em dia. Esta é uma das razões pelas quais o ministério pastoral tem sido menosprezado.

5) O crente pode querer ser pastor ou exercer outra liderança?

Certamente. Em I Timóteo 3:1 Paulo afirma: Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. O que deve ser repudiado é a fome por cargos e poder. É pelo exemplo e pelo serviço que os obreiros são selecionados na Bíblia, mesmo diante da necessidade. Em Atos 6, quando surgiu a necessidade de atender bem o serviço social da Igreja, não se colocou qualquer pessoa. Os apóstolos procuraram sete homens de boa reputação e cheios do Espírito Santo e de sabedoria!

6) Como se dá a chamada de Deus na vida de um obreiro?

O chamado pode vir da necessidade (Atos 6:1-3), de uma obra específica na vida de alguém (Atos 13:2) ou de um propósito divino insondável (Jeremias 1:5) ou dos três fatores combinados. O que não deve acontecer é alguém se impor ou impor o nome de outrem por afinidade, amizade, bajulação, boa oferta ou qualquer outro fator. É Deus quem chama. Os líderes mais antigos chancelam a chamada divina.

Por vezes, as pessoas correm de um lado ao outro e esquecem o maravilhoso pressuposto bíblico expresso na história de Davi (I Samuel 16). Deus mandou Samuel ungi-lo, mas por causa do trabalho (e não por displicência, pecado ou omissão) ele não estava presente. Parecia que seus irmãos lhe roubariam a coroa, até que Deus entrou em cena e cumpriu sua vontade eliminando da disputa todos os concorrentes. Até que Samuel disse a Jessé: Acabaram-se os moços? Respondeu Jessé: Ainda tem um, mas está no campo. Samuel lhe disse: Manda chamá-lo, nós só nos assentaremos quando ele chegar.

É assim que Deus faz ainda hoje, ninguém toma o lugar de um servo fiel!

Por outro lado, infelizmente, alguns atropelam o plano de Deus. Há os que se desesperam e se ungem a si mesmos. Outros não ungidos fundam suas igrejas. Outros somem e já aparecem consagrados. Outros tentam validar tais consagrações com visões e uma suposta espiritualidade. Enfim, há de tudo neste quesito.

Por último, neste tópico, queremos enfatizar o que diz Mateus 20:25-27 (Linguagem de Hoje): “Então Jesus chamou todos para perto de si e disse: Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles, e os poderosos mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de vocês”. Ninguém é chamado para a proeminência senão por sua responsabilidade. O líder é chamado ao serviço. O que disto passar é carne ou maligno.

7) Deus escolhe os capacitados ou capacita os escolhidos?

Nossa sociedade em geral tem ojeriza ao estudo. O que se reflete no meio evangélico. O crente tem preguiça de ler a Bíblia, de ler um livro secular. Por isso que a TV e seus programas prontos para consumo tem tantos adeptos entre nós. Devemos fazer a nossa parte, Deus fará a sua como dissemos há pouco… Leiamos o que diz o pastor Elinaldo Renovato:

Deus chama, porém, o preparo cabe aos seus servos. O pastor precisa ter conhecimento bíblico (o que deve saber), teológico e habilidades ministeriais (o que deve ser capaz de fazer). Seu preparo não termina quando conclui um seminário teológico, mas se dá durante toda a sua jornada.  Em o Novo Testamento vemos que os apóstolos foram chamados, mas só foram enviados após algum tempo de aprendizado com Jesus (Mc 6.7; Mt 10.16; Lc 10.1). O exemplo de Paulo também é bem significativo. Ele foi chamado, já possuía o conhecimento da Lei, pois teve como professor o renomado Gamaliel, mas partiu para a Arábia e ali ficou três anos se preparando para exercer seu ministério junto aos gentios (Gl 1.17,18). 

O conhecimento nunca foi tão indispensável, seja para o crescimento na graça (II Pedro 3:18) ou para vacinar a Igreja contra modismos e tendências desviadas da verdade. Num tempo em que livros eram difíceis de portar e caros, Paulo recomendou a Timóteo: Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá (II Timóteo 4:13).

8) Há diaconisas na Bíblia?

Em Romanos 16, temos a seguinte expressão:

Romanos 16

No qual resta claro que uma mulher de nome Febe servia à Igreja em Cencréia. Não é uma questão de gosto. O problema se aprofunda quando mais adiante, no mesmo capítulo, Paulo cita o trabalho de outras mulheres e usa o verbo kopiaô, que é o termo usado para se referir ao trabalho ministerial, pesado e duro. Alguns tradutores e pensadores torcem o nariz para a evidência, mas esquecem a história e o contexto do capítulo citado.

Um documento antigo da Igreja Católica, chamado Didascalia Apostolorum, escrito por volta do 3º século, revela a existência de 300 diaconisas em Roma. Elas foram perdendo a importância com a instituição do celibato. Algumas das esposas dos padres tinham este título. Leiam, por exemplo, a seguinte recomendação do documento citado:

Portanto, ó bispo, indiques tu obreiros de justica como auxiliares que podem cooperar contigo para a salvação. Aqueles que te agradam de todo o povo tu escolherás e indicarás como diáconos: um homem para o desempenho da maior parte das tarefas que são exigidas, Mas uma mulher para o ministério de mulheres, pois há casas onde tu não podes mandar um diácono às mulheres, por causa dos pagãos, mas podes mandar uma diaconisa. Também, porque por muitas outras tarefas o ofício de uma mulher diácono é exigido. Em primeiro lugar, quando mulheres descem na água, aquelas que descem na água devem ser ungidas por uma diaconisa com o óleo de sagracão; e onde não houver uma mulher presente, e especialmente uma diaconisa, não fica bem que as mulheres sejam vistas por homens; mas com a imposição da mão tu ungirás tão somente a cabeça. Como de outrora os sacerdotes e reis foram ungidos em Israel, faz tu de igual maneira, com a imposição da mão, unge a cabeça daqueles que recebem o batismo, quer homens quer mulheres; e depois — quer tu mesmo batizares, ou tu mandares os diáconos ou pastores a batizarem –deixes uma mulher diácono, como já temos dito, ungir as mulheres. Mas deixes um homem pronunciar sobre elas a invocação dos Nomes divinos na água.

9) Quais as atribuições do pastor. Sugiro a leitura complementar do texto: O que é a Igreja? O que o pastor faz nela?

10) Quais as atribuições do diácono?

O diácono é, por excelência, o serviçal do templo e da Igreja. Esta missão não deve ser um fardo, mas um prazer. Servir à Noiva! Consequentemente, o diácono deve trabalhar para que o culto funcione, agindo sempre na retaguarda, sem estrelismo, mas com prontidão. Infelizmente, muitos são convidados e escolhidos e depois se surpreendem com a carga de trabalho. Nossa igreja tem por praxe um claro choque de realidade para o candidato ao diaconato. Mesmo assim ainda há problemas.

Outrossim, cabe aos diáconos entre outras funções:

  1. Organização dos bancos e cadeiras
  2. Abertura e vigilância nas portas e outras dependências da Igreja
  3. Recolhimento e contagem de ofertas e seu posterior registro
  4. Servir o pão e o vinho à congregação na Ceia do Senhor
  5. Levar pão e vinho aos doentes ausentes à Ceia
  6. Zelar pelo bom andamento do culto, evitando que pessoas se levantem ou o atrapalhem
  7. Orientar visitantes e recolher seus nomes
  8. Encaminhar decisões por Cristo
  9. Fazer funcionar a parte administrativa da Igreja, cadastros, batismos, disciplinas

Finalizamos aqui este breve comentário sobre pastores e diáconos na Igreja. Aguardamos suas sugestões, críticas e colocações neste assunto tão importante.

Bibliografia

  1. Winter, Ralph, Concordância Fiel do Novo Testamento, Editora Fiel, 1994
  2. Rienecker, Fritz, Chave Linguística do Novo Testamento Grego, Vida Nova, 1988
  3. http://www.theotrek.org/resources/Plampin/Licoes-sobre-Mulheres-Cristas/diaconos/1tim3.11por.htm

Sobre o autor | Website

Meu nome é Daladier Lima dos Santos, nasci em 27/04/1970. Sou pastor assembleiano da AD Seara/PE. Profissionalmente, trabalho com Tecnologia da Informação, desde 1991. Sou casado com Eúde e tenho duas filhas, Ellen e Nicolly.

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6 Comentários

  1. Fabio Barbosa disse:

    Prezado Ministro!!! Não entendi o argumento citado em Rm 16, e não houve uma explicação obvia sobre as funções do serviço diaconal para mulheres,se possível refaço a pergunta,teve diaconisa na bíblia com certeza? Nos releve e traduza de norma mais clara o texto em grego em Rm 16.

    Fábio Barbosa dos Santos

  2. Daladier Lima disse:

    Prezado Fábio Barbosa, houve sim ao menos uma diaconisa na Bíblia, cujo nome era Febe, está no capítulo 16 de Romanos. Sua função era semelhante aos diáconos em geral, num trabalho dirigido às mulheres. Ou seja, serviam às mulheres. O Didaskalia Apostolorum que é um documento da Igreja por volta do ano 300 d.C. tem um detalhamento deste trabalho prestado pelas diaconisas. Não é uma questão de querer, é apenas história.

    Por outro lado, diversas outras mulheres citadas naquele mesmo capítulo trabalharam ministerialmente, como deixa transparecer os verbos utilizados para o trabalho de Junias, uma apóstola, e Trifena e Trifosa.

    Abração!

  3. elias taboss disse:

    Tem muitas mulheres hoje que coopera na obra do mestre, elas são diaconisas? Se elas era diaconisa, por que Paulo não usa a palavra diakonia para elas? Usa outra palavra. Considerando que elas era dioconisa, faziam o mesmo trabalho de Estêvão e os outros diaconos do cap. 6 de atos?

  4. Daladier Lima disse:

    Prezado Elias, a palavra é a mesma tanto para um homem quanto para a mulher. Diakonia era o serviço prestado, que é louvado no Didascalia Apostolorum.

    Abração!

  5. Andre Gomes disse:

    A título de colaboração, informo que o livro de apoio à lição (as ordenanças de Cristo nas cartas pastorais, elinaldo Renovato, Cpad, p. 49) aponta como qualificação que ” as mulheres (diaconisas) devem ser honestas….”

  6. Daladier Lima disse:

    Boa observação, André. Obrigado.

    Abração!