Sete coisas que você pode não saber sobre o pastor

Nem sempre a ideia corrente que se tem do pastorado corresponde à realidade. Neste curto artigo descrevemos o que é ser pastor e o que não é. Não é um tratado, mas uma reflexão. Vem comigo!

Chegou o Dia do Pastor! Não é uma data fixa, cai no segundo domingo de junho. Não há informações sobre como se iniciou a comemoração. O Portal GospelPrime informa que “registros antigos da Convenção das Igrejas Batistas Independentes informam que desde a década de 50 se comemora o Dia do Pastor, uma troca do nome dado ao Dia da Junta da Beneficência, data onde os fiéis se reuniam para levar ofertas para os pastores aposentados”. Se for essa a razão é um nobre gesto, se não for também!

Sugiro que você se comunique com o seu pastor e o parabenize. Ele ficará alegre ao receber um SMS, um telefonema, um e-mail, um aperto de mão, um abraço… Afinal ele é seu pastor! Desde já o blog parabeniza os pastores e pastoras pelo seu dia, deve haver algum entre os trezentos leitores…

Mas há outras seis coisas sobre o pastor, em geral, que você pode não saber. Vamos lá?

2) O pastor não é um pai. Não no sentido de criar e educar um filho. Muitos até dizem: “Meu pai na fé!”. É um modo carinhoso de se referir ao pastor, mas pode camuflar a responsabilidade familiar de criar e orientar os filhos cada um por si. Verdade que vivemos num tempo onde a instituição familiar está aos pedaços, salvo honrosas e raras exceções, mas o pastor não cria, não sustenta. Isso pode até ser feito de maneira esporádica e circunstancial.

Cabe-lhe, porém, orientar e pastorear, o que se refere muito mais ao cuidado espiritual. Evidentemente, aquilo que as ovelhas fazem no dia a dia se reflete na Igreja. Porém, ainda prevalece a máxima: Família sadia = Igreja sadia. O bom pastor investe nas famílias, a sua inclusive, para ter o retorno na Igreja. E cuidado com pais e mães que ameaçam levar seus filhos ao pastor diante de uma travessura. Estes podem incutir a falsa e perigosa impressão de que o pastor é um censor*.

Diáconos antes dos pastores

Diáconos antes dos pastores

3) O termo pastor ocorre diversas vezes no Novo Testamento. A maioria em relação a Jesus, nosso Sumo-Pastor (I Pedro 5:4). Somente em Efésios 4:11 há a menção do termo em relação a funções eclesiásticas. É incrível para muita gente que os diáconos tenham aparecido antes dos pastores na Igreja Primitiva. Onde, inclusive, não há distinção clara entre os termos pastor, presbítero e bispo (ancião).

4) E como ficam as outras referências ao termo pastor? Bom, é mais razoável listar as ocorrências comuns em nossas traduções. Preparamos um quadro demonstrativo delas, voltaremos a seguir:

Ocorrências da palavra pastor no NT

Ocorrências da palavra pastor no NT

Como podemos constatar, exceto em Efésios 4:11, as ocorrências não se referem aos líderes da Igreja Primitiva. As duas referências de Hebreus falam de líderes. Isso desmerece o pastor? De forma alguma. Nossa pretensão é apenas fazer nossos leitores refletirem sobre o papel do pastorado a partir da Bíblia e não da cosmovisão denominacional ou pessoal de alguém.

5) Os pastores são lideranças dadas por Deus a determinada congregação (Efésios 4:11), para dela zelarem e cuidarem com dedicação e afinco. O retrato mais vívido deste cuidado está em João 10:12, onde se diz que o verdadeiro pastor luta pelo seu rebanho, buscando preservá-lo dos ataques do lobo, que personifica o Diabo. Dentre as principais características atribuídas ao episcopado, Paulo destaca a vigilância (I Timóteo 3:1).

Os falsos pastores se tornam indolentes e omissos, deixando as ovelhas à mercê de tais ataques. O texto diz que eles até veem o lobo vindo, mas, intencionalmente, ignoram o risco para evitar desgastes, com prejuízo do rebanho. Um falso pastor não se importa se perder ovelhas, mas ao verdadeiro, a perda de uma só o leva ao desespero (Lucas 15:4), noites em claro e preocupação. O falso quer apenas se preservar.

6) A preocupação do pastor não é ser amado, nem condescender com os erros das ovelhas. Vara e cajado são suas ferramentas de trabalho (Salmos 23:4). Com uma exorta num desvio, com a outra põe no rumo certo. O apóstolo Paulo, por exemplo, foi, por diversas vezes, alvo de problemas e dificuldades no trato eclesiástico. Não será diferente com os demais. Quem esperar ser bem tratado ou compreendido estará em maus lençóis rapidamente. Não se trata de presumir decepções, mas tratar a vida pastoral de modo realista. Ao contrário do senso comum ser pastor é sofrer.

7) O pastor não é sacerdote, muito menos sumo sacerdote. Volte às referências. Somente I Pedro 5:4 fala de um Sumo Pastor, alguém com predominância sobre os demais, mas não se refere a nenhum homem, mas a Cristo. Não conheço nenhuma fonte confiável que denomine os líderes da Igreja Primitiva como sacerdotes e note que: 1) Vieram do Judaísmo, seria uma ligação lógica fazerem isso; e 2) Muitos sacerdotes se converteram (Atos 6:7).

Presume-se que foram despojados de seus títulos ao aderir à nova igreja. Precisamos compreender que a definição de sacerdote judaica passava um pouco distante do pastor clássico. Ela está na Bíblia em Hebreus 5:1,5. O moderno uso entre os evangélicos só se tornou possível com a disseminação do título na Igreja Católica. É de lá, infelizmente, que importamos todo o sistema hierárquico vigente em muitas igrejas.

Hoje os sacerdotes somos nós mesmos quando entramos em nosso santuário: o coração! E adoramos a Deus com uma vida digna e uma mente renovada, intercedendo pelos nossos pecados e pelos demais irmãos (Romanos 12:1,2). A voz dominante da Reforma Protestante foi a restauração do sacerdócio universal de todos os crentes. Lutero (1483-1546), Calvino (1509-1564) e Zwinglio (1484-1531) reafirmaram o sacerdócio universal dos crentes no que toca ao relacionamento individual com Deus. Antes a Igreja Católica adotava essa prerrogativa para seus clérigos.

Podemos, por alguma licença poética, nos referir a um pastor como sacerdote, desde que saibamos que o sacrifício levítico cessou em Cristo (Hebreus 2:17) e não lhe atribuamos mais do que consideração. Como disse Paulo, eram sombras das coisas futuras. A prevalecer esse raciocínio teríamos levitas e todo o conjunto do sacrifício dos tempos do Velho Testamento. Muitas vezes tais títulos visam apenas bajular e empoderar pessoas em detrimento dos demais líderes. Aí já passamos do Espírito à carne! Fiquemos com o que diz Hebreus 10:21.

Finalizo pontuando algumas coisas: a) Nem todos pastores são ricos, a maioria trabalha para sobreviver; b) A imensa maioria leva a sério seu chamado e somente suas igrejas e poucos outros pastores o conhecem; c) Pastores midiáticos nem de longe representam o pastorado e seus dilemas; d) Pastores sofrem tanto quanto ovelhas, financeira, pessoal e psicologicamente; e) Pastores são o alvo prioritário da perseguição e do Diabo; f) Suas quedas repercutem por dez, vinte, cem membros; g) Pastores são indispensáveis para guiar o rebanho, orientá-lo e ensinar-lhe a Bíblia!

Oremos por eles. Orem por mim!

* Esta postura é semelhante àquela da mãe que castiga o filho com a leitura da Bíblia ou cantar um hino na Harpa Cristã. Ele acaba achando que fazer isso é um… castigo!

Sobre o autor | Website

Meu nome é Daladier Lima dos Santos, nasci em 27/04/1970. Sou pastor assembleiano da AD Seara/PE. Profissionalmente, trabalho com Tecnologia da Informação, desde 1991. Sou casado com Eúde e tenho duas filhas, Ellen e Nicolly.

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1 Comentário

  1. As suas postagens são de fato o que o nome do blog já diz, reflexão.parabéns pastor, Que o Senhor abençoe a ti e também aos demais pastores !