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A família e a violência doméstica

Violência doméstica

Prezados 100 leitores, boa parte dos portais evangélicos repercutiram um levantamento feito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie sobre violência doméstica. No âmbito da pesquisa se descobriu que 40% das mulheres que se declaravam vítimas de agressão física e/ou verbal são evangélicas. Pior! Que ao procurar ajuda em seus líderes espirituais foram orientadas a suportar a agressão. Segundo o que foi publicado, tais agressões seriam lançadas na conta do Diabo, que instrumentalizando seus maridos subjugavam as mulheres.

Confesso que não conheço os dados em detalhes, mas a partir da minha experiência pastoral, via de regra, é esta a realidade séria e indubitável. Tanto da imensa quantidade de mulheres agredidas todos os dias e que sobrevivem ao casamento. Muitas vezes por medo, noutras por dependência econômica e, por fim, por dependência psicológica. Infelizmente, a omissão da Igreja também é uma realidade.

O que a mulher cristã deve fazer num contexto de agressão?

Vamos por partes, que não há respostas fáceis a uma questão tão difícil. Em primeiro lugar, deve orar. Orar por por si mesma, por seu marido e seus filhos. Afinal, se ela sucumbe tudo o mais é secundário. Depois deve orar, pedindo direção divina. Sei como isso parece antiquado e desnecessário, mas Deus sempre tem a palavra final. Então, ore pedindo que Deus lhe dirija e a ajude a encontrar uma saída. Ore por seu marido violento. De fato, há alguns casos que é uma possessão e demônios só se expulsam com jejum e oração. Mas em alguns casos e mesmo assim é preciso alguma ação! Faça fotos dos machucados, se houver, hoje é mais fácil com um celular. Evite postar em redes sociais, esse é um problema doméstico e íntimo.

Em seguida, tente estabelecer um diálogo com seu marido sobre a agressão. Há atitudes tomadas no calor de uma discussão que podem resultar num soco, num tapa ou algo pior. Há um tipo de homem safado (desculpe a palavra chula, mas não há outra no momento) que começa a chorar depois de agredir a companheira. Se você quiser perdoá-lo, aproveite este momento para lhe dizer que é a última chance. E faça por onde cumprir o que disse, do contrário restarás desacreditada. Outro tipo é aquele que se embriaga e esquece o que aconteceu. Faça questão de relembrá-lo, sem muitas delongas, e tome a mesma providência anterior. O último tipo é o que não se reconhece errado. É o pior para lidar. Neste último caso, além de enfatizar que não vai permitir tais agressões é preciso tomar outras providências.

Neste último caso, a vítima deve estar ciente de algumas providências. Se você denunciá-lo, especialmente se as marcas em seu corpo puderem comprovar a agressão, seu marido será preso. A Lei 11.340/06, também chamada de Maria da Penha é clara neste sentido. É preciso lidar com esta possibilidade. Não é raro, e isso me dizem agentes da Lei, a mulher denunciar no calor da agressão e depois retirar a queixa. E em muitos casos pouco tempo depois vem mais agressão e, por fim, a morte da vítima. Se estiver decidida, tome como uma decisão irreversível. Se ele for preso ou ocorrer uma separação em decorrência das agressões é preciso evitar as famosas recaídas. Casa, briga, separa. É complicado esse ciclo.

Indo adiante, é preciso pensar nas crianças. Elas não entendem muito bem os dramas de um casal. Mas determinadas atitudes visam seu bem. Aquilo que parece doloroso hoje, pode repercutir em algo bom amanhã. Aqui cabe uma ressalva especial, se por acidente você se juntou a uma pessoa que se revelou violento, evite a todo custo ter filhos com ele! No dia em que você não aguentar mais a barra pesada ambos vão cada um para seu lado. Porém, se há filhos na história, tudo fica mais complicado. É preciso pensar quem vai cuidar das crianças, entrar com ação para pagamento da pensão alimentícia, que muitas vezes é insuficiente para a manutenção da casa, uma vez que é uma parte do salário e não ele todo, etc. E se a vítima não trabalha, é preciso pensar em alguma coisa para complementar a renda de imediato e voltar efetivamente ao mercado de trabalho mais adiante, se isto não for possível no momento.

Uma vez que haja necessidade de divórcio e tendo filhos fique o mais próximo possível de sua família. Se a agressão verbal continuar registre os diálogos e quando houver provas suficientes acione juridicamente, para que a Justiça possa mantê-lo distante de você. Sabemos que em muitos casos não funciona, mas é melhor do que não fazer nada.

Não se culpe, especialmente se você é a vítima das agressões. É uma tendência. Cegos pelo amor sonhamos, mas algumas vezes eles se tornam pesadelos. É preciso ir em frente, de cabeça erguida. Esteja preparada psicologicamente para questionamentos de familiares e amigos. Responda de modo objetivo. Conheço irmãs que casaram na Igreja, de véu e grinalda, como se diz e depois seu mundo ruiu. A quem culpar? Algumas vezes foi falta de firmeza, como aquela mocinha que permitiu ao noivo, num acesso de ira, puxar-lhe pelos cabelos, arrancando lágrimas de seus olhos e mesmo assim foi em frente e casou. Noutras falta de maturidade, ao casar com o primeiro e bem rápido porque queria sair da casa dos pais e ter seu próprio ninho. Faltou estrutura, mas isso não é motivo para desanimar.

Procure um novo relacionamento, que não repita os erros do passado. Já vi filmes da vida real nos quais uma vítima procura alguém pior do que antes. Lide com sua necessidade sexual ou emocional. Cuidado com a pressa e o idealismo. Procurar saber como os namorados lidam com pais e parentes é uma regra básica para saber como agirá num futuro relacionamento. Não é pecado querer casar novamente quando o relacionamento anterior naufragou por violência sexual, psicológica ou física! Só é preciso fazer isso da forma correta, com um novo compromisso oficializando a união.

Qual deve ser a postura dos pastores?

Um pastor deve sentir o drama alheio. O primeiro receio da vítima é que seu caso seja exposto e que quem ouve não saiba lidar com ele. É preciso sigilo e discrição. Devemos orar pedindo direção divina. E analisar cada caso detidamente. Sendo ambos evangélicos é mais fácil ouvir os dois lados. É preciso demonstrar o rigor da Lei para uma ocorrência desta natureza, além do rigor dos estatutos para disciplinar os infratores. Sim, a agressão a qualquer pessoa deve ser objeto de punição rigorosa na Igreja.

Infelizmente, muitos pastores atribuem tudo ao Diabo. Ele é quase sócio… Um cenário de violência contra a mulher exige ação e equilíbrio, na mesma dose de ambos. Levantemos a igreja em oração sem mencionar nomes. Em seguida, devemos dar amparo espiritual, emocional, jurídico e financeiro para tais vítimas. Devemos lembrar que algumas dessas pessoas não sabem por onde começar uma denúncia, nem como reconstruir suas vidas. E a igreja é um excelente local para isto.

O que dizer de uma cartilha contra a violência doméstica? A omissão é o caminho mais cômodo. Determinados pastores e igrejas agem como o sacerdote da parábola do bom samaritano. Não raro estigmatizando as vítimas.

Claro que o pastor deve guardar uma distância segura do envolvimento direto com o problema. Até para evitar o famoso pegar o cão pelas orelhas, mas isto não impede que façamos alguma coisa. Do contrário, depois teremos que fazer o funeral da irmã que foi assassinada pelo marido violento.

Mais sobre o assunto aqui.

 

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