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A mulher esteja em silêncio na Igreja! Como assim?

Mulheres em silêncio

Bem, meus 30 leitores (a audiência vem crescendo…, hehehe) vamos a mais um texto polêmico. Antes o background do assunto.

A lição da EBD desta semana trata do silêncio das mulheres nas Igrejas pastoreadas por Timóteo. As passagens em destaque são I Timóteo 2:11,12. Trago em grego, o conteúdo das mesmas:

Lê-se: gynê en hêssuchiz manthanétô en passê hypotagê

A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição.

Lê-se: didaskein dé gynaiki uk epitrépô, udé authentein andrós, alá éinai en êssuchia

Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.

O comentarista, nobre Pr. Elinaldo Renovato, diz o seguinte sobre o texto:

O silêncio no culto. “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição” (1 Tm 2.11). Paulo também faz uma recomendação semelhante a esta em 1 Coríntios 14.34,35. Qual seria o motivo de tal restrição? Segundo o Comentário Bíblico Beacon, “na igreja coríntia havia muitas mulheres recém convertidas do paganismo, e que a nova liberdade que desfrutavam em Cristo levava a certas extravagâncias que eram impróprias”. É importante ressaltar que em outro texto de Coríntios, Paulo mostra que as mulheres podiam profetizar nas igrejas: “Toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta […] (1 Co 11.5).

Antes de analisar a colocação, quero inserir o texto de I Coríntios 14:34,35:

Lê-se: rai gynaikés en taís eklêssíais sigatôssan, u gar epitrépétai autais lalein. alá hypotassésthôssan, kathôs kaí ró nómós légéi

As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.

Lê-se: eí dé mathéin thelussin, en oikô tus idius andras epérôtatôssan, aischron gar estin gynaikí lalein en eklessía

E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.

São passagens que se tornam, de forma natural, o centro da questão do papel da mulher na Igreja. Primeiro, temos dois tipos de mulher: a judia e a grega. A mulher judia era submissa. Não lhe era permitido se dirigir ao marido em público, nem cultuar junto ao homem no templo. Era desonra estar nele com a cabeça descoberta (I Coríntios 11:10). As conversas familiares se restringiam entre elas mesmas. Em particular, poderia esclarecer suas dúvidas com seu marido.

Em segundo lugar, temos a mulher grega. Emancipada, cosmopolita e democrática. Não levava recado pra casa. Há duas histórias que ilustram a diferença. Uma a da mulher siro-fenícia, que instada por Jesus, não se deu por vencida (Marcos 7:26) e a mulher do fluxo de sangue, que não se dirigiu a Jesus, mas o tocou furtivamente (Lucas 8:43).

Ambas foram levadas a conviver na nascente Igreja cristã. Podemos imaginar o choque cultural, embora nas duas igrejas às quais Paulo dirige a recomendação já se experimentava outros percalços desta natureza, em virtude de se encontrarem no mundo fora da Palestina. Penso, porém, que Beacon, seguido pelo Pr. Elinaldo, tenha inferido falaciosamente boa parte do seu argumento. Não creio que seja verdade a influência extravagante. É muito simples compreender isso: Se as mulheres eram extravagantes no paganismo, por que os homens não o seriam? Sabemos, por exemplo, do que seres do sexo masculino são capazes após o terceiro copo de álcool: são sempre bonitos, ricos e desejados… Então, não se sustenta. Creio que Paulo expressava sua visão pessoal, influenciada pelo rabinismo no qual foi instruído desde cedo. Os rabinos oravam pela manhã: “Graças te dou, ó Deus, porque não me fizeste gentio, escravo ou mulher” e diziam que “Era perda de tempo ensinar a Lei a uma mulher“. Mas gostaria de ampliar um pouco o assunto combatendo alguns outros argumentos falaciosos.

Um dos recorrentes é que as mulheres seriam mais vulneráveis ao pecado porque a queda começou em Eva. Parte do argumento é verdadeiro. Eva foi primeiramente tentada pela serpente. Porém, por que Adão, sendo forte segundo o argumento, não resistiu à oferta de Eva. Usando seu livre arbítrio ele decidiu o que fazer e escolheu a pior opção. Ambos caíram! Esse tipo de argumento ainda é utilizado hoje por irmãos carnais e concupiscentes para impingir à mulher a tentação sexual, por exemplo. Já conversei com rapazes apanhados em adultério que disseram algo semelhante a: “Pastor, a menina me ligou dizendo que os pais haviam saído. Quando chego na casa dela, saiu do banho com um babydoll transparente. Não teve jeito pastor, acho até que foi Deus quem permitiu…”. É a velha desculpa da transferência de culpa de Gênesis: foi a mulher, foi a serpente…

O filho desse é o argumento de que Paulo estava prevenindo tal fraqueza porque a mulher seria mais suscetível às heresias. Ora, desde a Igreja Primitiva até nossos dias, os homens inventaram dez vezes mais heresias que as mulheres! Não se passaram nem 200 anos e já despontavam diversas interpretações fraudulentas dos ensinamentos de Jesus e da Igreja. Vejamos, por exemplo, a quantidade de escritos apócrifos, a maioria esmagadora escrita por… homens! Então é uma falácia deslavada. Outro exemplo sintomático é que a Bíblia nunca fale de lésbicas, mas várias vezes de homossexuais masculinos! Não que não houvesse, mas a proporção de pecado nesta área era e é muito maior por parte dos homens, ainda que hajam mais mulheres entre nós.

Alguns dos que defendem os argumentos acima se amparam em I Coríntios 11. Porém, esquecem o que diz o versículo 12: “Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus”! Essa interdependência passa despercebida a muitos de nós. As pessoas esquecem, por outro lado, que Paulo espelhava sua cosmovisão. Não é preciso muito exercício para compreender isto. O que dizer, por exemplo, das cinco vezes que recomenda o ósculo entre os irmãos (Romanos 16:16; I Coríntios 16:20; II Coríntios 13:12; I Tessalonicenses 5:26; I Pedro 5:14)? Era sua cultura falando, ainda que eivada de espiritualidade e inspiração ou não? Vamos cumprir tal ósculo entre nós? No mesmo capítulo 11 de I Coríntios ele recomenda que as mulheres usem véu. A não ser pela Congregação Cristã (nem sei se é verdade), desconheço outra igreja que cumpra! É o que chamo desde sempre aqui de Ortodoxia Seletiva, quando interessa cumprimos, quando não… O que dizer, por fim, de: Não permito, porém, que a mulher ensine… Entenderíamos como em I Coríntios 7:12?

Outro argumento é o da lei em Corinto. Alguns expositores afirmam que havia uma lei que proibia a mulher falar em público. Então, Paulo recomenda que as mulheres estejam caladas para não haver problemas. Leiamos o adventista Jack Blanco: “Como em nossas sinagogas, as mulheres que freqüentam a igreja não deveriam falar em voz alta e comportar-se de maneira repreensível, como fazem nos templos pagãos, mas permanecer em silêncio e prestar atenção, como a lei ordena, de modo a não ofender os crentes judeus. Se vossas mulheres não conseguem entender o que está sendo ensinado, não deveriam interromper o pregador, mas esperar até chegarem em casa e perguntarem a seus maridos. Embora as mulheres pagãs falem em voz alta e interrompam os outros nos lugares de culto, é desonroso a uma mulher cristã comportar-se dessa maneira”.

Eu aprendi que um texto tirado do contexto vira pretexto. Então, como explicar o finalzinho do versículo (grifo meu): “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja”? E como harmonizar com o que Paulo escreve a Timóteo? Ainda que houvesse tal lei, como explicar que os crentes não servissem ao exército romano por não compactuar, entre outras coisas, com a lealdade a César? E não podemos esquecer que não existiam templos em prédios como os conhecemos, mas igrejas mantidas em casas de convertidos!

A partir de falácias como essas se cristalizou a repugnância de algumas igrejas à liderança feminina. O Círculo de Oração que temos é fruto da interpretação de que mulheres não deveriam liderar a oração, senão entre elas. Daí a predominância feminina neste trabalho! Convenientemente, esquecemos que na Igreja Primitiva quem orava eram os apóstolos (Atos 6:4)!

O mais incrível sobre o silêncio das mulheres na Igreja é quando se aceita prazerosamente sua ajuda com crianças e adolescentes. Nós, os homens, transferimos a responsabilidade, porque não queremos cuidar desta faixa etária. Nos tempos bíblicos era o rabino quem ensinava às crianças! O site GotQuestions faz a seguinte colocação: As mulheres podem ser professoras talentosas, mas não têm a permissão de Deus para “falar” de tal forma em suas igrejas. Na verdade, fazer isso é “indecoroso”, ou seja, “uma desgraça” (v. 35). Como assim, podem ser professoras talentosas? Ou seja, se reconhece o talento, mas por diletantismo não se deixar atuar? Como tal talento foi descoberto?

Pior, temos palestrantes do sexo feminino que ensinam em nossas reuniões. Outras pregam, muitas cantam. No Novo Testamento não há menção a tal permissão. Fomos dando nosso jeito.

O meu amigo Juber Donizete, do blog Cristianismo Radical, analisou o assunto. Em linhas gerais utilizou a fonte e o argumento de Blanco, mas adicionou a temporalidade da ordenança paulina. Leiam e reflitam.

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