A crise de dizer e fazer
Como as contradições entre o que se diz e o que se faz foram corroendo a confiança da membresia nos grandes líderes evangélicos? Vem comigo!
Crise virou palavra da hora. As igrejas não são ilhas. Seus membros convivem com os efeitos nefastos da corrupção sistêmica implantada pelo PT e seus aliados. Veio a Lava Jato e os necessários julgamentos impuseram uma paralisia ao circo de vantagens que acampou no Palácio do Planalto. E foi colhendo as reputações, uma a uma. Lula já não vale nada, a não ser para sua seita de fanáticos. Já falamos aqui que a igreja não está imune aos respingos. Muitos líderes cuidaram de se colocar dentro deste saco de farinha, seja deixando de ser voz profética contra a roubalheira, seja participando diretamente dela.
O livro A crise de ser e de ter do conhecido pastor Caio Fábio ainda faz sucesso Brasil afora. É uma obra de referência para entender a diferença entre coisas e pessoas e a prioridade que deve existir entre elas. As aplicações se estenderam e tudo que contrapunha dinheiro, fé, pessoas e atos passou pelo crivo da obra, tornando-a um best-seller entre os evangélicos brasileiros.
Entretanto, uma nova crise veio se desenhando no meio da igreja evangélica brasileira e, nos últimos anos, se aliou à obra petista. Isso! Por vias tortas a política imitou a religião, ou vice-versa, trazendo para a cena cotidiana uma legenda que se propunha como bastião da moralidade, da ética e do progresso. Treze anos depois o PT mandou a ética às favas, perdeu a oportunidade, a popularidade e o prestígio, a ponto de seus candidatos omitirem as cores de sua bandeira nas propagandas eleitorais deste 2016. Do mesmo Caio Fábio veio o vaticínio: “O PT é um rapaz que passou 20 anos discutindo ética dentro de casa. Ao sair às ruas se prostituiu!”.
Com a igreja evangélica aconteceu algo semelhante. Tomada como um refúgio contra os canalhas e desviados da fé, pouco a pouco tornou-se uma réplica grosseira, fazendo exatamente o que não devia e contra o que vociferava no passado. Das duas uma ou era um blefe ou a igreja é outra. Ou as duas coisas juntas. E já que estamos falando de política, em nossos dias pastores estão enamorados por ela até o pescoço. Temos até presidentes igrejas deputados federais eleitos e outros com cargos elevados ocupando o Senado e as prefeituras. Não me perguntem como dão conta. E há, ainda, outros pastores e líderes promovendo seus candidatos a torto e a direito. Muitas vezes contrariando a Lei e a lógica. Mas, quem dera o problema se restringisse à política secular… Esse parece ser uma mera equação de vantagens, poder e dinheiro, onde as ovelhas são trocadas por benesses. No caso muitos benefícios e cargos comissionados para pastores e líderes indicados pelas igrejas.
A crise de dizer e fazer
Jesus (vejam quanto tempo atrás!?) proclamou que a palavra do cristão é sim, sim, não, não. E o que disso passar é maligno (Marcos 5:37). Não tem sido assim com a Igreja evangélica brasileira. Seus líderes dizem uma coisa de manhã, de tarde sua palavra já não vale mais nada. Acertos em reuniões viram pó após novos acertos… em outras reuniões. Ensinam à Igreja humildade e são jactanciosos. Aconselham a que os irmãos ofertem e quando o fazem gastam perdulariamente. O ter predomina sobre o ser. O maior ícone dos televangelistas brasileiros, Silas Malafaia, dizia anos atrás que a prosperidade era algo dado por Deus, em sua soberania. Depois passou a ser adepto de Morris Cerullo a quem trouxe algumas vezes para seus programas, pregando… A Teologia da Prosperidade! Que obriga Deus a abençoar seus filhos em troca de barganha financeira.
Como nem tudo está tão ruim que não pode piorar, por conta da grave crise financeira que se abateu sobre nossa Nação desde o ano passado, o mesmo adepto de tal barganha com Deus se vê, agora, obrigado a diminuir investimentos, demitir funcionários, cancelar caros horários televisivos e repensar sua estratégia empresarial. A ele se juntaram todos os demais: Valdomiro, RR Soares, Agenor Duque, etc. E, por que não dizer, todas as igrejas se puseram, automaticamente, no mesmo ringue!?
Se os crentes estão atônitos com a mudança de humor ético dos evangélicos, imaginem as pessoas que interagem conosco. No dia a dia evangélicos tem sido pilhados nas atividades criminosas mais diversas. Cúpulas de igrejas são presas por malversação de dízimos e ofertas, como é o caso da Igreja Cristã Maranata. Uma denominação com mais de 5000 templos no Brasil e no mundo. Pra não ficar somente no Brasil, um dos maiores escritores mundiais (em termos de livros vendidos), o Pr. Paul Young Cho, foi preso dia desses por favorecer seu filho, desviando dinheiro da Igreja para compra de ações suspeitas.
As notícias de desvios se generalizaram. Os membros dão de ombros. Os líderes se arvoram na chamada para não prestar contas. Os problemas crescem. As perguntas ficam no ar: O que deu errado? Será que enquanto estávamos preocupados demais com o frasco, o perfume se estragou?
As respostas não são fáceis. O único caminho possível é o arrependimento. Mas isso, pensam os grandes líderes, é para os fracos. E eles não estão dispostos a passar um sinal de fraqueza. Enquanto afundam no próprio pântano que ajudaram a criar, infelizmente não vão sozinhos. A crise de dizer e de fazer só terá fim quando admitirmos nosso erro e consertarmos seus efeitos. Se é que isso ainda é possível.
Vamos sobrevivendo ao caos, olhando para Jesus, o autor e consumador da nossa fé.
Leia mais sobre a crise financeira que se abateu sobre as igrejas evangélicas brasileiras no Blog POINTRHEMA, do Pastor Carlos Roberto.
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