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Frida Vingren, breve resenha do livro homônimo!

Ao saber que a biografia de Frida Vingren foi contemplada com o 2º lugar em vendas da CPAD, no ano de 2014, categoria livros nacionais, republico este post de março do ano passado. Aproveitamos para estimular a comprar deste valioso livro.

Um mês atrás foi lançado o livro Frida Vingren, do Pr. Isael de Araújo. Prometi a meus dez leitores uma resenha. Infelizmente, meu tempo está curto. Frida é um daqueles personagens que galvanizam minha atenção. Não apenas por ser mulher, esta questão de gênero não me comove, mas por seu trabalho, por sua história e pelos desvarios que a acometeram. Mas, vamos por partes, espero que me acompanhem.

O escritor é um pastor conhecido entre os assembleianos. Pesquisou in loco algumas das indicações históricas. Frida já foi alvo de vários autores, mas é uma iniciativa excelente dar-lhe voz, mais uma vez. Aliás, ela é o tipo de personagem que se ergue cada vez mais por sua biografia, falem mal ou bem dela. A história está bem contada e documentada. Os detalhes que foram omitidos (digo isto por conhecer alguns de outro escritor) numa obra oficial não chegam a fazer muita falta.

Ressalto algumas passagens que grifei, numa outra ordem de importância que não a cronológica:

Ministério feminino

Ralando…

Em 27 de maio de 1917, Frida foi ordenada missionária da Igreja Filadélfia de Estocolmo, para trabalhar no Brasil, principalmente como bibelkvinna (antiga palavra sueca para designar uma mulher que exercia o ministério de ensinadora da Palavra de Deus nas igrejas) (pág 32). Vingren começou a realizar cultos na prisão no Rio [1929], tendo à frente do trabalho a sua esposa Frida, junto com muitos outros irmãos e irmãs.

Coitada, sem crachá…

Na abertura dos cultos, era ela quem fazia a leitura bíblica com a igreja. Quando Gunnar se ausentava em suas viagens, era Frida quem pregava a mensagem nos cultos e também cuidava de outras atividades da igreja. Ela gostava de ministrar estudos bíblicos (pág 76). Frida era um dos pregadores mais ativos nesses trabalhos evangelísticos ao lado de seu esposo, e de dois jovens evangelistas: Paulo Leivas Macalão e Sylvio Brito (pág 81).

Mas, antes os detalhes do processo…

Nessa época, mulheres crentes batistas que desejassem atuar na obra de Deus podiam ser consagradas evangelistas ao frequentar a escola bíblica em Orebro ou Gotabro (pág 23). Em novembro de 1915, foram enviadas 21 evangelistas, para diversas regiões do país [Suécia]. Doze eram mulheres e nove homens (pág 24). Na realidade, a maioria dos evangelistas suecos eram mulheres (pág 28).

Será que foram aprimorar o crochê no seminário?

[Palavras de Gunnar Vingren:] Eu mesmo fui salvo por uma irmã evangelista que veio visitar e realizar cultos na povoação de Bjorka, Smaland, há quase trinta anos [1930]. Depois veio uma irmã dos EUA e me instruiu sobre o batismo no Espírito Santo. Também quem orou por mim para que eu recebesse a promessa foram irmãs (pág 113).

Tudo indica que não. Note: quinze anos antes de Frida já evangelistas faziam o trabalho missionário através da Suécia.

Em junho de 1930 Signora Dragland visitou o Brasil em direção à Argentina. Ela pregou a palavra num domingo e três pessoas foram salvas. Ela já atuava como evangelista há onze anos, tendo viajado através da Suécia, Noruega e Finlândia (pág 115).

Definitivamente, não!

Dois anos após a realização da primeira escola bíblica [1916], a Igreja Filadélfia em Estocolmo anunciou que “irmãs que tivessem a mesma chamada[…] para pregar o evangelho” eram bem-vindas, ressalvando-se a capacidade do ambiente. Se houvesse falta de lugar, os homens teriam precedência, embora a chamada pudesse ser a mesma (pág 27). O ano de 1928 começou com Frida pregando nos cultos da igreja no Rio de Janeiro, nos dias 2 e 6 de janeiro.

Finalmente, o primor! Antes como hoje!

Como evangelistas, as mulheres exerciam trabalho pioneiro. Seu principal encargo era ganhar as pessoas para a fé cristã. Quando o grupo de novos convertidos crescia, então algum presbítero de alguma localidade mais próxima, vinha e batizava e dirigia a santa ceia (pág 29).

Compare!

… em alguns lugares onde não houver pastores ou irmãos competentes para ministrarem a palavra, então, poderão as irmãs dirigir o serviço do Senhor, provisoriamente até o comparecimento do pastor ou dos irmãos enviados por outras igrejas…[1930] (pág 120). Isso deve acontecer somente quando não existam na igreja irmãos capacitados para pastorear ou ensinar (pág 121).

Até hoje as irmãs os esperam no Círculo de Oração… Rsrsrs!

Anos de chumbo

Muitos crentes tiveram as suas casas e tudo o que lhes pertencia completamente destruídos em muitos lugares durante o trabalho de evangelização. Alguns foram feridos à faca e machucados com paus e outros instrumentos. Pernas foram quebradas e cabeças esmagadas, e muitos morreram devido à tortura por que passaram, para não falar de coisas piores que muitos irmãos passaram antes de morrer [1924] (pág 68).

Sustento e dificuldades financeiras

Quanta semelhança com nossos dias? E depois da partida nada levaram, somente um buquê de flores! Para muitos que exigem presentes nos aniversários e indenizações pelo trabalho na Igreja…

Quanto ao sustento financeiro, os Vingren viviam em 1930 pela fé em Deus, dependendo de ofertas enviadas do exterior, que não eram regulares (pág 124). Nos primeiros meses de 1931, Vingren e Nystrom lutavam com dificuldades financeiras para publicar o Mensageiro da Paz (pág 131). A família viveu com quase nada durante esse tempo (pág 139). Durante os meses de abril a junho, os Vingren não receberam nenhum sustento dos EUA (pág 150).

Argúcia

Neste ano [1926], Frida escreveu um artigo defendendo o uso da imprensa escrita na pregação do evangelho…

A grande divisão de 1930..32

Primeiro o pretexto…

Também separou Emília Costa como diaconisa [1928], a única que ocupou esse cargo na igreja (pág 92). …Deolinda, a primeira mulher brasileira separada evangelista [1929] (pág 101)… setembro[1929], dia 27, Vingren pregou concernente aos dons espirituais e sobre o direito de a mulher falar na Igreja. Um dos crentes foi usado por Deus em profecia e falou que Vingren não temesse, mas que continuasse a ensinar a sã doutrina, e predisse que muitos se levantariam contra ele (pág 102). Samuel Nystrom não se humilhou e continuou sustentando que a mulher não podia pregar nem ensinar, só testificar (pág 104). …Otto Nelson, escreveu uma carta para Estocolmo queixando-se de que haviam missionários colegas seus que desejavam impedir a atuação de sua esposa [Adina Nelson] (pág 106).

Primeiras divisões

Vingren lançou um novo jornal… O Som Alegre e teve seu primeiro número circulando em dezembro de 1929 (pág 104).

A partida final

Para Frida era como arrancar o coração do seu peito quando pensava em deixar o Brasil para talvez nunca mais voltar (pág 147). Em 14 de agosto de 1932, num culto de domingo à noite, Vingren entregou oficialmente a Assembleia de Deus no Rio de Janeiro ao missionário Samuel Nystrom… Contavam-se mais de 2.000 membros (pág 154).

Mortes precoces. Seria a pressão da missão?

…no dia 29 de junho de 1933, com 53 anos de idade, ele [Vingren] partiu para a eternidade… (pág 166). Frida piorou outra vez, e depois de um mês no hospital, findou seus sofrimentos… Era o dia 30 de setembro de 1940. Frida estava com 49 anos (pág 177).

Atuação vergonhosa dos companheiros no fim da vida

Após a morte de Vingren, Frida desejou ardentemente retornar ao Brasil… Mas o pastor Lewi Pethrus não aprovou a ideia… Frida decidiu que iria a Portugal,… Por volta de 1936,… Frida adoeceu. Nesta época, além de sentir muitas dores no corpo e os tratamentos nos hospitais não resolverem sua enfermidade, Frida teve de padecer a acusação de alguns pastores da Igreja Filadélfia de Estocolmo de que ela sofria de problemas mentais.

Eu sei que a história não foi essa. Frida não era doente senão por almas. Os líderes de então não toleravam tal obsessão. Também não toleravam sua argúcia, seu envolvimento, sua capacidade, sua tenacidade, seu mérito. E muitos hoje não toleram suas atitudes.

Finalizo transcrevendo as palavras de um de seus grandes opositores:

A irmã Frida [após a morte de Vingren despiram-na do título de missionária] tinha muitos talentos naturais, além dos que o Senhor especialmente lhe concedeu. Tinha facilidade de aprender; assimilar e de se expressar; além disto retinha a sua originalidade; tanto a sua linguagem falada como a escrita, tinha simplicidade e clareza, e sabia cativar os que a ouviam…

O seu zelo e dedicação ao Senhor, fizeram-na procurar poder que vem do alto, e de lá veio a sua impetuosidade e firmeza nos trabalhos a que se dedicava, tornando-se assim, um instrumento de benção para muitos. Nunca me esqueço do tempo em que trabalhamos juntos no Pará. Muitas noites, sozinha no seu quarto, lutando, permanecia em oração até à madrugada, tudo para que as bençãos de Deus descessem sobre o trabalho; Deus respondia e ainda animava outros a entrar na mesma cooperação de oração.

A sua impetuosidade, algumas vezes, levou-a além do que era prudente e útil, naqueles momentos; porém, depois, reconhecendo isto, lamentava que tal sucedesse. Entretanto, é preferível ter um espírito ardente e zeloso do que ser morno e nada efetuar. Ela ganhou muitas almas para Cristo. Paz seja sobre a sua memória (pág 179).

Infelizmente, somos, por vezes, muito bons para homenagens póstumas. Às vezes, nem isso.

Vale a pena comprar. Recomendo enfaticamente!

Link para o livro na CPAD, aqui.

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