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Os perigos do Gambito da Rainha na Igreja!

Os perigos do Gambito da Rainha na Igreja

Os perigos do Gambito da Rainha na Igreja

Prezados leitores, alguns de vocês já devem ter assistido à minissérie O Gambito da Rainha, da Netflix. Inteligente, tensa, dramática, a história se passa ao redor da protagonista, Beth Harmon, uma orfã com aptidão para o xadrez, numa época em que esse esporte era mais restrito ao universo masculino. Campeã de audiência, ficou em 1º lugar um mês seguido nos EUA.

Há alguns pontos a serem destacados: a habilidade de Beth é tonificada por um calmante. É um gatilho psicológico para extravasar o talento nato da garota. Sem esse auxílio ela fica, digamos, prejudicada no exercício dos jogos e na visualização dos movimentos. O xadrez compensa sua solidão, sua falta de habilidade social e ela passa a viver em função dele.

A certa altura percebemos que suas habilidades já não lhe são mais benéficas. Consomem toda sua energia e ela sobrevive atrelada ao tabuleiro de 64 peças, como se fosse uma boia salva vidas para seu mundo caótico. A certa altura não há nada mais que aquele ringue que lhe obriga a novas vitórias para se manter no auge.

Há ao menos dois links com o mundo eclesiástico. O primeiro é intelectual. Pessoas que se cercam de livros e se encastelam. Já falamos desse assunto aqui várias vezes. Há uma mudança no paradigma pentecostal, por exemplo, que privilegia os que detêm o conhecimento. Nada contra, muito pelo contrário. Mas o problema é quando isso passa a consumir tempo e atenção exagerados.

Já não é mais novidade gente que vive querendo fazer o gambito (um truque para uma boa jogada no xadrez que significa rasteira, no caso no adversário) em Deus adquirindo muito conhecimento, mas longe da prática. Assim como o jogo é sofisticado, a manobra eclesiástica também o é. Daí em diante sacrifica-se a praxis, a família e a própria Igreja. Como há vício envolvido o jogador não percebe quão distante foi em seu afã. Até que a realidade bate à porta.

Anos atrás se cria que uma Igreja mais educada teria como consequência uma comunidade mais apta ao serviço. Justo o contrário aconteceu. A Igreja acumulou muito conhecimento, mas está cada vez mais distante do verdadeiro Evangelho e de quem precisa dele.

O segundo link vai para o poder eclesiástico, propriamente dito. Ele se torna sagaz e maquiavélico como um jogo de xadrez, um gatilho para ensaiar jogadas contra o adversário. O objetivo não é mais glorificar a Deus, mas aplicar um gambito nos contrários às diretrizes desta ou daquela liderança. Novamente um grande sacrifício é feito e há, assim como em Harmon, um alheamento do convívio social. As pessoas se tornam frias, calculistas, distantes, reduzem as demais a peças de um tabuleiro, perdem a essência humana.

Percebo que todos à volta de Beth Harmon querem se aproveitar de seu talento, suas carências, como a madrasta infeliz que se oferece para ser a empresária da própria filha. Mas ao mesmo tempo, a própria se aproveita de tudo e de todos à sua volta, oferecendo migalhas por companhia e amor. Um vínculo utilitarista e complacente. É um comportamento esperado de uma triste menina que espelha a realidade de muitos hoje em dia.

Ambas as situações são perigosas porque exigem cada vez mais astúcia e distanciamento. E, como dissemos, tem um custo pessoal altíssimo. Que estejamos alerta para que a missão não nos absorva como fez com Harmon, nos tornando experts excêntricos. O que há para fazer não prescinde da nossa humanidade.

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