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Que balido é esse que ouço?

Que balido é esse?

Nossos sentidos são a porta de nossa interioridade. A maneira como ouvimos, vemos, sentimos, tocamos, falamos deixa marcas indeléveis em nossa alma. Eventualmente, podemos estar privados de um deles, isto só aguça os demais. Cegos, por exemplo, tendem a ouvir e tatear melhor. A ausência de um compensa o outro, nosso cérebro, esta máquina maravilhosa criada pelo designer dos designers, se encarrega de fazer todo trabalho de adaptação.

Os leitores habituais da Bíblia conhecem a expressão que dá título a este post. Ela ocorre num contexto triste na Palavra de Deus[1]. Pela covardia dos amalequitas com Israel, quando o povo de Deus saía do Egito, Deus havia decidido riscar o nome de Amaleque de debaixo dos céus. Seu instrumento humano? Saul. Rei escolhido entre tantos outros israelitas que cumpriria tal desígnio junto ao exército de Israel. A ordem era clara: Destruam Agague, rei de Amaleque, e seu povo.

A batalha cresceu e se estendeu por quilômetros. Duzentos e dez mil soldados israelitas lutaram naquele dia e venceram. Só haviam dois problemas: 1) Pouparam o rei e 2) Tomaram os despojos que deveriam ter sidos queimados. Detalhe: não qualquer despojo, mas os melhores bois, as ovelhas mais gordas. A porta do coração em ação: a visão! O que Israel viu e desejou, tomou para si, em desobediência à ordem divina.

O rei estava alegre quando recebeu um duro recado divino: “Apesar de insignificante fora alçado ao posto mais elevado. Mas após sucessivas reincidências na desobediências às ordens de Deus, fora rejeitado pelo Senhor. O seu reino fora rasgado, em breve outro ocuparia seu trono e nunca mais veria seu tutor espiritual!”. Daí em diante Saul se tornou triste, melancólico e maníaco, até perder seu trono para um, aquela altura dos acontecimentos, insignificante pastor de ovelhas, que gostava, pasmem os leitores, de tocar, compor e cantar no campo, enquanto tangia ovelhas. Aquelas coisas básicas de uma alma livre!

Num tempo cintilante, cheio de cores e música, nossos sentidos se aguçam. Não somos meros irracionais, levados por nossos instintos. A vontade de Deus deve nos demover, nos fazer refletir, encontrar nosso lugar no mundo. A igreja dos nossos dias (falo de modo generalíssimo) é tentada pelo balido do dinheiro, das vantagens, das ocasiões, das oportunidades, dos homens amantes de si mesmos. Mas o eco que fundeia tal balido é a desobediência primeva ao Deus do jardim do Éden. Toda desobediência, aliás, é fruto da decisão do primeiro casal! Então, não eram meros bois nédios balindo para a alegria do povo de Deus, mas era o coração e a mente mesmo que estavam nelas.

Deus também tem sentidos. Não limitados como os humanos. Ele ouve os decibéis que ecoam entre a alma e espírito, discerne pensamentos e propósitos do coração. Uma região nunca alcançada pela psicologia. Ele faz radiografias com seu olhar milhões de vezes mais precisas que qualquer tomógrafo. Sua profunda consciência sobre nós não deixar escapar nenhum suspiro. Afinal foi ele quem criou toda a engenharia do corpo humano em suas três dimensões!

Então, que balido é esse? Que arfar do coração permeia nossa mente. Cada um esteja seguro em seu próprio ânimo, porque até mesmo Saul julgava ter feito um favor para Deus, enquanto estava em franca desobediência. Que nossa motivação não seja traída por uma consciência cauterizada, que nenhuma vantagem nos demova da presença de Deus. Que possamos estar desnudos diante dele, que o conheçamos e sejamos conhecidos daquele que vive eternamente.

E nunca esqueçamos: Aquele que andava entre as pedras afogueadas (que nível sensorial espetacular!?) não caiu do inferno, mas do Céu!

[1] I Samuel 15

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