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Seis lições do caso Silas Malafaia para a Igreja

Silas Malafaia (Estadão)

Hoje, o televangelista, pastor, psicólogo e multimídia, Silas Malafaia, foi levado coercitivamente para depor numa operação policial denominada Timóteo. O noticiário contém abundante material a respeito. Conto que seja inocente, torço para que sua lisura cantada em prosa e verso venha à tona. Mas há algumas lições do caso que são importantes para nossa reflexão.

1) Misturar religião e política em algum momento deixará a liderança vulnerável. É uma premissa fatal. Vocês sabem como boa parte dos pastores brasileiros adoram a política secular. Muitos deles tem parentes, outros indicam apaniguados para os cargos e alguns até se candidatam. Essa mistura é perigosa. Assim como poucos políticos evangélicos se salvariam de investigações mais detalhadas, poucos pastores transitam neste meio sem se enlamear. O mínimo que acontece é a aética privatização para a Igreja de cargos e indicações. Somente gente muito ingênua imagina que os políticos fazem essa simbiose sem levar nada em troca. Malafaia já elogiou aquele que se revelou um dos maiores corruptos da História brasileira recente, Eduardo Cunha:

Além disso, está envolvido com políticos e política como tantos outros líderes evangélicos. É um pântano que exige um preço. Infelizmente, engolimos todos os sapos possíveis até que a lama chegue aos joelhos. Pensando que a Igreja precisa da política se fazem os acordos, muitos dos quais exigem apresentações públicas em troca, pedidos de votos e outras coisas que o decoro proíbe citar. Até que a associação fica evidente e aí a Igreja paga o preço das decisões da liderança, de sua omissão ou leniência.

O jogo político brasileiro não é para amadores. A Igreja não pode bancá-lo!

2) Pastores recebendo ofertas de políticos. Esse filme é muito antigo. Vantagens, cargos, carros, imóveis, dinheiro vivo, cheques, depósitos em contas de terceiros, tem de tudo, infelizmente. Tanto para a Igreja como para pessoas. Recentemente, fui informado de um episódio envolvendo um candidato a vereador e um pastor de envergadura nacional. Numa determinada conversa o candidato expôs nomes de pastores subordinados que receberam dinheiro prometendo os votos de congregações. E eles não chegaram. Na conversa o candidato cobrou uma medida contra a desonestidade, como se comprar votos também não o fosse. Pelo sim, pelo não, a imagem de todos se arranhou, nivelando-se por baixo. Não consigo diferenciar um pastor que promete votos em troca de dinheiro, do político que barganha a promessa!

Esse tipo de ocorrência é mais comum do que se imagina. Conheço um pastor que recebeu o telefonema de um secretário a quem um interlocutor cobrava determinada quantia equivalente a um cargo comissionado. E ameaçava entregar a recusa ao pastor superintendente da área. O pastor ouviu o relato da ameaça e imediatamente telefonou para seu superior, inteirando-o do teor. Ao que tudo indica era um achaque, mas como tal superior é ávido por política a dúvida ficou no ar e nada foi esclarecido adequadamente. Não é incomum terceiros receberem dinheiro e favor em nome do pastor ou da Igreja. São situações vexatórias que revelam um comprometimento negativo.

Santo Deus! Quem nunca ouviu histórias de compras de equipamentos e móveis para igrejas em troca de votos? De doações de terrenos por decretos ilegais ou imorais? De concessão de títulos somente para lisonjear o beneficiário?

3) Dinheiro em contas pessoais. O caso de Silas Malafaia tem um ingrediente que passaria despercebido aos menos desatentos. Em entrevista ao G1[1] o pastor afirmou que o dinheiro foi depositado em sua conta pessoal, que mantém junto com sua esposa. Ora, ora, recebo um cheque de R$ 100.000,00, como gratidão por uma oração, no exercício, portanto, de um ministério e deposito na minha conta pessoal? Esquisito, estranho, perigoso caminho para todo tipo de especulação!

Incrível? Não. É muito comum a confusão entre dinheiro da Igreja e finanças pessoais. Não são raros os casos em que filhos, esposas e outros parentes tenham acesso direto ao caixa da Igreja, sob a complacência do líder. Recibos, reembolsos de combustível, compras e faturas de cartões pessoais são bancados por tesoureiros dependentes das benesses de quem exerce o poder.

Uma premissa básica da boa administração é a separação entre o público e o privado.

4) Pode ser mentira ou má fundamentação legal a motivação para a condução coercitiva de Malafaia? Pode. Mas sua evidente aparição midiática acaba por sopesar na providência policial. Se ele fosse um anônimo talvez não precisasse de tanto. Esta é outra perigosa estrada para a liderança eclesiástica. Não podemos viver nas sombras, ao mesmo tempo que não podemos nos expor de modo gratuito e chamativo sem necessidade. Acabamos virando um alvo!

5) Preferência por causas morais. Embora hajam alguns discursos de Malafaia contra a corrupção, percebo sua tendência para a defesa política de causas morais. Isso tem lá seu charme e utilidade, mas acaba tornando as pessoas meros militantes. Aliás, a dita bancada evangélica funciona quase que exclusivamente nestes termos. Nunca vi deputado federal evangélico propor medidas sozinho ou em conjunto contra o tamanho do Estado, a favor da diminuição de tributos e coisas que interessam diretamente à população. Se viram, por favor, me informem.

A atuação política evangélica é, via de regra, casuísta, oportunista, adesista e pragmática. E há muitos políticos envolvidos naquilo que o Evangelho repudia e condena.

6) A última lição deste post é que a igreja evangélica brasileira é, infelizmente, parte do problema. Antes foi a Madureira com a delação de Júlio Camargo, agora esta história do cheque que, repito, pode não ser verdadeira. Pastores em toda parte apadrinham corruptos, políticos desviados, sonegam informações da membresia a respeito dos acordos, fazem acordos de gaveta e por aí vai. Infelizmente, não podemos cobrar ética da política partidária. Muitos de nós estão chafurdando na mesma lama!

PS: Outra lição importante é desconfiar de altas ofertas. Na dúvida conferir procedência e origem do dinheiro. A igreja não pode ser lavanderia de reputação, quanto mais de dízimos e ofertas. É bom frisar que o problema não é o cheque ou o valor, mas a origem do dinheiro. É por isso que Malafaia foi conduzido coercitivamente.

Leia mais [A Igreja evangélica pode ensinar ética à política partidária?]

[1] Entrevista ao G1

[2] Acusação contra a Madureira

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