Atos é o livro do Espírito Santo. Será!?

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Meus prezados, de fato, o quinto livro do Novo Testamento, escrito pelo médico amado, como um resumo de informações a um personagem gentio de nome Teófilo, contém o registro da atuação sobrenatural da terceira pessoa da Trindade. Mas, contudo, todavia, porém, o Pai e o Filho não saíram de cena como parece numa primeira impressão.

É importantíssimo o modo pelo qual Lucas cria um cenário de atuação da Trindade naqueles primeiros anos da Igreja, embora dê relevo às manifestações ligadas ao Espírito Santo. Senão, vejamos. Numa rápida pesquisa temos:

• 153 referências ao termo Deus
• 72 a Jesus
• 42 ao Espírito Santo
• Se reduzirmos a pesquisa ao termo Espírito ao invés de Espírito Santo, serão 53 ocorrências

Tomemos agora o primeiro capítulo: Jesus já aparece no primeiro versículo. No segundo versículo Lucas nos informa que ao invés de agir por “conta própria” Jesus ensinara aos apóstolos pelo seu Santo Espírito. No terceiro versículo ele nos diz que Jesus não falara de outra coisa senão do reino de… Deus!

1 Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar,
2 Até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera;
3 Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando das coisas concernentes ao reino de Deus.

No quarto versículo ele diz que a promessa do batismo no Espírito Santo vinha do Pai, mas no quinto cita a profecia de João Batista, que falava na ocasião de Jesus como esse batizador. No sexto versículo os discípulos se dirigem a Jesus usando um termo reservado a Deus: κύριος (Lê-se kyrios), palavra que ocorre 102 vezes em Atos (‘Senhor Jesus’, ocorre 17 vezes). Mas, no versículo seguinte, a dinâmica retorna para o Espírito Santo, que empoderará a Igreja!

4 E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele, de mim ouvistes.
5 Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.
6 Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?
7 E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.
8 Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.

O versículo 11 retorna o foco para Jesus. No 16 para o Espírito Santo, numa passagem curiosa do Velho Testamento, que revelara a Davi a sorte de Judas, traidor de Jesus, v. 20. No vers. 24 chamam Jesus, novamente, de κύριος (Lê-se, kyrios).

16 Homens irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus;
20 Porque no livro dos Salmos está escrito: Fique deserta a sua habitação, E não haja quem nela habite, e: Tome outro o seu bispado.
24 E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido

Qual é a ideia que desejo transmitir? É que Lucas não está preocupado, a priori, em fazer de Atos dos Apóstolos o livro dos atos do Espírito Santo, embora seja dele a predominância ao longo das narrativas que acompanham a nascente Igreja.

Isso diminui um dos entes da Trindade? Não, de forma alguma. Só demonstra que ela esteve igualmente agindo na Igreja e que essa divisão é muito mais didática que cotidiana na vida da Igreja. Não há uma atuação estanque, nunca houve, aliás. Temos aí a perfeita definição do termo grego περιχώρησις (lê-se, perichôrêssis), pericorese, vem de peri (à volta, ao redor) e chorein (conter) e descrevia uma dança na qual as crianças rodavam ao redor uma das outras.

Continuando…

Para aqueles que possam destacar o capítulo 1 como uma introdução ao assunto de Lucas e menosprezar essa constatação, vamos, então, ao capítulo 2?

O versículo 4 relata que é o Espírito Santo que fez o movimento pentecostal se iniciar a Igreja. Mas o v. 10 registra que aquelas pessoas, cheias do Espírito, falavam das grandezas de Deus. Percebe como Lucas alterna a direção do movimento? No vs. 16 a 18 é Deus quem usa o profeta Joel para profetizar o derramamento do seu Espírito Santo, que ora se cumpre para a Igreja e testemunho de judeus prosélitos de 14 nações! Note o pronome possessivo: Diz Deus: derramarei do meu Espírito!

Em meio ao primeiro discurso pentecostal, levado a efeito por Pedro, a centralidade se volta para Jesus, v. 22, não sem antes informar ao leitor que Deus era quem operava os milagres através do Filho! No versículo seguinte é dito que o Messias estava sob a presciência de Deus! Já no v. 24 é Deus quem ressuscita Jesus, que havia dito, lembrem, que daria sua vida e tornaria a tomá-la (Jo 10:18). Esta operação sobrenatural atribuída ao Pai é repetida no v. 32!

Já no versículo 30 Lucas nos informa que Deus havia prometido a Davi que o Cristo dele descenderia e o próprio Deus se encarregaria de revelá-lo no tempo oportuno. No v. 33, Deus exalta o Filho e lhe promete derramar o Espírito Santo. Um dos versículos em que a atuação sinérgica da Trindade é diretamente descrita em Atos.

Lucas retoma, no versículo 36, a ação do Pai sobre o Filho, ressuscitando-o dos mortos. No versículo seguinte, o Filho e o Espírito Santo são mencionados como atores da salvação. No v. 39 quem chama os pecadores à salvação é o Pai. É o mesmo contexto do versículo 47, Deus acrescenta à Igreja os que chama.

Asseguramos que o capítulo 3 segue o mesmo esquema (vide At 3:26), daí porque não temos como concluir de outra forma nossa argumentação: A Trindade é revelada em perfeita atuação na Igreja Primitiva! É o livro dos atos da Trindade!